Ela sempre teve medo.
Medo, principalmente, de ter medo.
Medo de sentir o medo de quem ama.
Medo de amar, por consequência.
Por ter tanto medo, foi viver sozinha.
E sozinha ficou.
E o tempo passou.
Não via nada, nem ninguém.
Nem ninguém tentava vê-la.
Sabiam que não seria possível,
pois ela não iria querer.
Um dia, porém, um pássaro apareceu em seu jardim.
Diferente dos outros, que vinham e iam,
esse ficou.
Ela não se aproximou.
Mas ele ficou, mesmo assim.
Ficou e cantou, durante toda a tarde.
Toda a noite.
Toda a manhã seguinte.
Depois de muito pensar,
ela foi ao encontro de sua visita.
Quando chegou, o pássaro perguntou:
“O que faz sozinha, nessa casa tão grande?”
“Não estive sempre sozinha. Moravam outras pessoas aqui, comigo”, ela respondeu.
“E o que aconteceu com eles?”
“Eu os afastei”, contou após um breve silêncio, quase que com vergonha.
O pássaro respondeu com alegria no coração:
“Pois a mim, não vai afastar. Não irei te deixar por nada”
E ela acreditou.
O tempo passou e, por mais que ela lutasse contra,
se apegou ao Pássaro que escolheu o seu quintal para cantarolar.
Nem sempre eram flores, e ela ainda sentia medo.
Mas escolhia evitá-lo.
Assim foi durante anos.
E, com o tempo, ela passou a reencontrar as pessoas que amava.
Os deixou voltar,
e eles permitiram que ela voltasse também.
A casa estava cheia novamente.
Então, em uma noite quieta e quente de verão,
o Pássaro a chamou com sua cantoria,
como fez quando a conheceu.
“Está na hora de eu partir”, disse o Pássaro.
Ela o olhou com dor no coração e indagou:
“Você disse que não iria me deixar, por nada.”
“E não vou. Estarei sempre com você. Não afaste o amor por medo de perdê-lo, e tenha sempre muita alegria por ter chorado por alguém. Por mais que esse alguém seja um Pássaro como eu.”
Ela o viu voar com uma lágrima em cada olho.
O viu voar com seu coração.
Mas ela o fez sem medo.
Sem medo por amar.
Como o Pássaro a ensinou.
O tal do medo… parabéns pela crônica.