O Senhor Geraldo segue seu caminho com uma boneca ao colo.
Seus passos são lentos e largos, parece intrigado e tenta pisar no centro de sua sombra.
Súbitos emocionais de sua infância se confundem com a realidade presente.
Como dói amanhecer órfão em sua velhice!
Num impulso, ele abre os braços;
Alícia cai de costas. Ele se apavora, uma vizinha se apressa para ajudá-lo.
Ele chora, precisa socorrer sua bebê, não permite que a vizinha o ajude.
Está desesperado, implora o perdão de Alícia.
– Sua mãe vai ficar furiosa, minha criança!
Ampara-a e retorna correndo para casa. A filha o encontra, estava a sua procura.
– Paizinho! O Senhor saiu sem avisar.
– Zema, veja! Ela caiu! Ela caiu do meu colo. Foi o velho no chão! Eu estava tentando acertar sua barriga, mas ele continuava, Zema! Ele continuava…
– Pai, eu sou Alícia, estou aqui, estou bem. Vem, paizinho!
– Não, Zema! Ela está tão calada, não diz nada, e nem chorou ao cair… A nossa menina bateu a cabeça, bateu forte no cimento. Havia a sombra de um homem no chão, a nossa frente, era a imagem escura de um velho, e ele a levava abraçada contra seu peito. Eu quis salvá-la! Vamos! Vamos! Precisamos de um médico!
Alícia chora e o abraça:
– Ela está bem, não precisamos de um médico.
Não! Não, Zema! Não somos nós. É a menina, a menina precisa. É para ela…
Será crueldade da noite devolvê-lo com aparente sarcasmo aos seus dias de sol?
Todos esperamos o milagre de uma morte calma, sem sustos.
Sem sustos!
O Senhor Geraldo divaga nos fragmentos de sua essência.
Riso a riso, dor a dor, pedra a pedra…
Abandona-se sem limitações ao passado.
O esquecimento é um antídoto transgressor, atua muito além da névoa fria da decomposição física.
Que os nuncas de suas memórias jamais o abandonem!
Adeus às tristes verdades!
Bem-vindas as adoráveis ilusões!
Autora:
Laila Zanov