“Hoje vou tentar estacionar aí.”, disse Thayla.
Thayla era uma pessoa cuidadosa.
Preocupada, sempre vigilante.
Alguns diziam que Thayla tinha olhos atrás da cabeça.
E sempre que ouvia isso, ela ia conferir pra ver se tinha mesmo.
Não fazia nem o mais seguro de todas as opções seguras apresentadas.
E se sentia segura assim.
Tinha segurança em sua falta de segurança para sair do script.
“O filme é para 18 anos”.
Ela, há dois dias dos 18, não cometeria tal gafe.
“A viagem é do dia 4 ao dia 6.”
Dia 6 ela tem dentista.
Não pode remarcar, vai que ele não atende mais ela esse mês e o dente dela cai?
Viagem cancelada.
Assim viveu Thayla durante toda sua vida.
Teve filhos.
E aí, vocês já imaginam.
Mas nenhuma insegurança de Thayla era mais infâme que a de estacionar o carro na casa de seus parentes.
O espaço era muito pequeno.
A curvatura, muito incerta.
Hoje, porém, Thayla decidiu ousar.
“Hoje vou tentar estacionar aí.”.
Os parentes ouviram, mas não acreditaram.
Será possível que ela faria algo tão audacioso?
Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu segurança.
Segurança que iria conseguir.
Já havia sobrevivido a coisas demais para se apequenar frente a um desafio pífio como esse.
Thayla pegou o carro, e foi estacionar.
Foram necessárias algumas pessoas para conter os danos causados por Thayla naquele dia.
O registro de água estourou e a parede fortificada precisou de reparos.
Especialistas ainda tentam entender como era possível tanto dano com tão pouca velocidade e espaço.
Thayla, porém, segue intacta e bem.
Bem segura de que não vai nunca mais ousar…