O país real de uma minoria surreal

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O ora presidente brasileiro enviou ao Congresso projeto de lei de proteção às fake news. Ideia que já foi rechaçada por esse mesmo Congresso e pelo STF há poucos dias. Tudo pra manter seu rebanho sob hipnose, entregando sempre porções controladas de ração “batizada” para mantê-lo motivado e ativo em sua defesa.

Estive pensando… De acordo com as pesquisas, cerca de 20 a 25% dos eleitores continuam a aplaudir acriticamente qualquer movimento de seu deus. Considerando o percentual máximo, dá em torno de 37 milhões de pessoas. Uma minoria diante do contingente de 148 milhões de eleitores (apenas pra levar em conta quem vota). Se essa parcela da população se deslocasse pra um pedaço do Brasil e fosse encapsulada como um estado autônomo, livrando o restante da população de suas sandices, tendo como líder o deus Jair, imagino como ficariam satisfeitos em viver de acordo com os “valores” que defendem:

1. Não haveria espaço para quem se descobrisse LGBTQIA+, sendo instituído o tratamento caseiro de um “couro” ou mesmo a morte para os tais. Os mais tolerantes (teria?) poderiam submeter o familiar à cura no templo do sumo pontífice Silas Malafaia.

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2. A mulher que, autorizada pelo marido, trabalhasse fora de casa receberia um salário inferior ao dos homens.

3. Os negros reconheceriam seu lugar de inferioridade e não reclamariam de serem acompanhados de perto por seguranças em espaços privados, tomariam cuidado com o movimento das mãos para que não parecesse que tinham furtado alguma coisa, normalizaram abordagens policiais truculentas, aprenderiam que a escravidão foi benéfica, que seu peso é expresso em arrobas e que Zumbi dos Palmares é seu antepassado bandido e do qual herdaram esse DNA maldito.

4. Os indígenas não teriam cultura própria ou aldeias. Seriam forçados a se civilizarem sem danças toscas, pinturas ridículas, cocares… Trabalhariam para garimpeiros e para o agronegócio se quisessem permanecer em sua própria terra, tendo um tempo para que fizessem uma total transição para a cultura e forma de vida do homem branco, até que se extinguisse por completo a referência à existência de indígenas, inclusive nos livros de história, que seriam reescritos trazendo verdades como o nazismo de esquerda, “contra-golpe” de 64, etc…

5. As pessoas com deficiência, redenominados especiais ou excepcionais ou mongolóides ou mesmo aleijados, se fossem colocados na escola por seus familiares, estudariam em classes ou escolas exclusivas para si, para não atrapalhar os demais alunos, longe dos olhos dos outros, poupando-os do constrangimento de conviver essas aberrações.

6. As universidades públicas seriam apenas para os que estudassem em escolas particulares.

7. As escolas públicas não teriam disciplinas como história, filosofia ou sociologia. Os livros teriam menos coisas escritas. As escolas teriam menos professores para não atrapalhar. Para seus alunos, o topo seria fazer um curso técnico.

8. Na política, estaria liberada a propagação de mentiras, calúnias, difamação e linguagem chula, sendo eleito quem se destacasse nesses aspectos. Os gabinetes teriam um percentual de funcionários fantasmas e a rachadinha seria regulamentada.

9. Não haveria religião de matriz africana.

10. Não haveria vacinas e o investimento em pesquisa na área médica e de saúde só seria feito para que os resultados refletissem a posição do governante, entenda ele do assunto ou não. Aliás, na comunicação oficial, que se fará através de lives e Whatsapp, o governante receitaria medicações para doenças.

11. A polícia teria autorização para matar sem precisar responder por isso e poderia integrar milícias e receber homenagens, inclusive atuando na execução de adversárias políticas.

12. O judiciário seria composto apenas por amigos do governante com o compromisso de só tomar decisões que lhe agradem.

13. “A arte (…) será heroica e será nacional, será dotada de grande capacidade de envolvimento emocional, e será igualmente imperativa, posto que profundamente vinculada às aspirações urgentes do nosso povo – ou então não será nada.”

14. Os discursos oficiais teriam linguagem própria na qual constarão obrigatoriamente palavrões e ameaças.

15. O poder e a imunidade seriam direto hereditário dos filhos do governante.

16. O nascimento de meninos (que só vestiriam azul) seria festejado e de meninas (que só vestiriam rosa) seria lamentado como uma fraquejada.

17. Os gastos do governante seriam sigilosos em valores, mas divulgados quanto aos itens como picanha, leite condensado, etc.

18. A violência contra a mulher seria normalizada. Agressores de mulheres, especialmente os que lhes tenham causado paraplegia, seriam recebidos em gabinetes.

19. A população seria altamente armada, sendo capaz de se contrapor às forças policiais e resolvendo seus conflitos de forma imediata.

20, 21, 22… Tem muita coisa que ainda dá pra colocar nesse “estado bolsonarista”.

A vantagem é que em pouco tempo, todos estariam auto-aniquilados, o bolsonarismo provado como sistema auto-extinguível e antissociedade. Irônico é perceber que apenas numa sociedade plural como a nossa é que é possível aos bolsonaristas sobreviverem, não por seus valores que, são autodestrutíveis, mas pelos valores dos que são detratados por ele, pelos valores de uma sociedade plural.

Autor:

Adilson Alves Ribeiro Duarte

2 COMENTÁRIOS

  1. O autor começou bem, mas demonstrou total falta de conhecimento acerca do que pensam os eleitores do Bolsonaro. Diferentes pessoas apoiam o governo por diferentes motivos; tem os olavistas, tem os apoiadores do Paulo Guedes, tem os militaristas, tem os antipetistas, tem os conservadores, dentre outros. Portanto, é difícil imaginar que o estado proposto seria de fato desejado pela maior parte dos eleitores do Bolsonaro.

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