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terça-feira, 23 de abril de 2024

Julgamento, Decisão, Escolha e Consequência

Dois boleiros amigos conversam em uma mesa de rua de um humilde bar na Bela Vista, em São Paulo.

Um deles, mais velho e bem sucedido.

O outro, ainda jovem e com muito a aprender.

Seu único elo em comum é o time pelo qual um joga e o outro já jogou.

Ambos com o mesmo número.

“Mas não o mesmo número de gols”, diz o mais velho, o grande Pintadinho.

“Ainda não descobri seu segredo”, responde Sérgio Maleco, seu sucessor.

“Você tá no caminho certo. Só precisa trabalhar melhor os quatro passos na hora H.”

“Quatro passos? Como assim?”

Pintadinho olha para Sérgio Maleco com uma certa malícia.

A malícia de quem sabe do que fala.

De um verdadeiro mestre da bola.

Após mais um gole de sua cerveja aguada e quente, ele afirma enquanto enumera os passos com os dedos:

“Julgamento, decisão, escolha e consequência.”

Sérgio Maleco pensa, reflete, pensa mais e diz:

“Entendi não. Decisão e escolha não é a mesma coisa?”

“Claro que não. Primeiro, você julga a situação. Depois, toma uma decisão, honra sua escolha e aceita as consequências.”, responde Pintadinho.

Sérgio Maleco ainda não se convenceu.

Esperava um exemplo mais prático do que uma filosofia de vida.

E Pintadinho, observador que só ele, percebe a insatisfação do amigo.

“Quando eu era bem criança, e jogava na base do São Paulo ainda, teve um dia que mexeu comigo. Eu recebi um passe cruzado da direita pra esquerda, onde eu estava, perfeito, mas perfeito mesmo, que me deixou de cara com o gol. Aí, destro como eu sou, meti um canhão com a direita. A bola só não saiu voando pra rua porque tinha grade em volta do campinho.”

Sérgio Maleco solta uma leve risada, enquanto Pintadinho segue com sua história.

“Pois é, o pessoal também riu na época. Sabe o que o treinador fez? Mandou voltar o lance. Mandou o sujeito que cruzou, cruzar de novo. E fez eu ficar no mesmo lugar, pra chutar mais uma vez. Mas com um detalhe: era pra eu chutar com a esquerda.”

“E aí? Chutou?”

“No começo, até rebati. Falei que era ruim demais com a perna esquerda. Mas ele não quis conversar, mandou repetir. E repetimos. E, quando chutei com a esquerda, foi um belo gol. O treinador se virou e me fez perceber o golaço que eu perdi, por não pensar antes de chutar. No fim, até marcou no placar do treino. Meu primeiro gol na base. Primeiro de muitos.”

Sérgio Maleco agora mexe a cabeça com jeito de quem entendeu.

Ao terminarem suas cervejas, os amigos se despedem e vão cada um para um canto da selva de pedras que é a cidade onde vivem.

Pintadinho, refletindo sobre seu passado e tempos que não voltam mais.

Já Sérgio Maleco saiu pensando em todos os dias que estão por vir.

Não sabe muito, mas sabe que, na próxima oportunidade que tiver, vai chutar com a esquerda.

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