Segunda-feira.
O começo de uma nova semana para todos.
Todos, menos eu.
Desde que meu antigo chefe me considerou “carga excessiva” para minha antiga empresa, me tornei um antigo funcionário e atual desempregado.
Passo minhas semanas observando uma obra ao lado de minha casa alugada, onde está sendo construída a de outra pessoa.
A base já vinha sendo feita desde antes de minha demissão, mas só comecei a prestar atenção nos detalhes depois dela.
Há um tanto de masoquismo e de esperança em ver alguém construir sua vida enquanto a nossa desmorona.
Não me pergunte qual se destaca mais.
Só o que posso responder é que já me vi fazendo o mesmo.
E, em alguns sonhos, já o fiz.
Mas no mundo real, nesse difícil e trabalhoso mundo real, ficou para depois do que havia imaginado.
Talvez não me doa tanto o fato de não ter construído minha casa, mas sim de saber que mesmo que a tivesse não teria ainda o que torna uma casa um lar – e isso é algo que meus futuros vizinhos, se eu continuar conseguindo pagar o aluguel, já possuem.
Pelo menos ainda tenho meus pais, que usam qualquer telefonema ou visita como uma oportunidade para se gabar de meus dois irmãos mais velhos e, na visão deles e do mundo, bem sucedidos.
Os construtores já chegaram, o arquiteto também.
E enquanto a casa é construída, tento me reconstruir.
Essa semana há de dar certo!
Só lamento não poder colocar cimento em algumas partes frágeis da minha vida para diminuir meu risco de desabamento.
Ah, como amo segundas-feiras….