Sem prazo.
Assim vivia Luís Felipe.
Talvez não tenha sido uma escolha consciente, mas foi uma escolha de seu ser, de ser assim.
Procrastinar até o último momento era sua cultura, religião e política pessoal.
Curiosamente, raras foram as vezes em que ele se deu mal por isso.
Talvez, inclusive, seria justamente por não se dar mal que ele continuou a seguir esse caminho por tanto tempo.
Seus próprios horários, seus próprios esquemas e sua própria organização.
Sempre, claro, sob os gritos apressantes de qualquer que fosse o responsável por supervisionar o garoto.
Inteligente, sempre.
Desinteressado, também.
Enquanto fazia suas atividades, buscava tempo para o devaneio.
Ah, o devaneio…
Tão importante para a mente de uma criança que não queria estar onde está.
Tão importante também, para o adulto que quer voltar para onde essa criança queria fugir.
Hoje, Luís Felipe cresceu.
E segue sem prazo.
Sem prazo para arrumar um emprego, sem prazo até pra acordar nas manhãs.
O único prazo que segue é o horário em que a lotérica fecha.
E nem esse é seguido à risca.
Não se preocupem, porém, pois para Luís Felipe tudo segue bem.
Afinal, ainda tem seus devaneios, por onde pode passear…