Depois de três longos meses, Cleber de Freitas concluiu o curso extracurricular que sua faculdade exigia para se formar.
“Curso de quê?”, perguntou Rogério, seu amigo que morava na rua ao lado.
“Pra ser colorista de filmes”, respondia Cleber, que nem ao certo sabia a nomenclatura correta do curso que passou esse tempo todo fazendo.
De fato, Cleber não queria ter de fazê-lo.
Mas nos últimos cinco meses que lhe faltavam de faculdade, era necessário escolher um relacionado ao seu curso de Animação e que tivesse um certo número de horas.
Horas essas as quais ele não cumpriu ao longo de seu curso.
Entre inúmeras tarefas e incontáveis momentos de pura enrolação, Cleber havia se juntado à estatística dos “vagais”.
Termo aplicado pelos professores para alunos como, justamente, o Cleber.
Então, na correria, ele se inscreveu no curso e participou de todas as aulas.
Ou, pelo menos, em aulas o suficiente para poder receber o certificado que comprovasse sua presença.
“E como foi o último dia? Achei que iria demorar mais pra chegar.”, disse sua mãe quando Cleber chegou em casa com o tal do certificado na mão.
Não haveria motivo para ele demorar.
Seus colegas de sala até saíram para celebrar a conclusão gratificante do curso em um barzinho lá perto.
Mas Cleber não se sentiu incluído nos planos.
E não haveria motivo para ele se sentir.
Cleber se manteve distante por quase todo o tempo em que teve oportunidade, pois achava que seu conhecimento adquirido na faculdade o tornava superior aos seus colegas de um mero curso de colorista.
Tudo o que ele queria naquele último dia era sair de lá o mais rápido possível.
Pouco tempo depois do curso acabar, acabou também a faculdade.
E sua vontade de ir embora mais uma vez apareceu; correu da faculdade o mais rápido que pôde, pois a levou da mesma forma que levou o curso.
Que era a mesma forma que levou quase tudo até então.
Acreditando que o mero cumprimento das etapas que levam até suas expectativas seria o suficiente para alcançá-las, Cleber foi vítima de sua arrogância elitista.
E hoje, segue em busca de um novo curso para fazer.
De fato a arrogância das pessoas, as leva para caminhos indesejados.