Mariana dirige, como já fez algumas vezes, para fora de Ponta Porã.
Seguindo por esse caminho, em menos de dez minutos ela chega no Paraguai.
Mariana repete esse mesmo ritual há exatos cinco anos, e hoje é o último dia em que ela vai realizá-lo.
Todo fim de semana ela, que mora sozinha desde que deixou a casa de seus pais em Campo Grande, atravessa a perigosa fronteira em busca do maior refúgio que já encontrou em sua vida:
O Cassino.
No Hotel Cassino de Amambay, Mariana vive uma vida à parte.
Se no Brasil ela é mera plebe, no Amambay ela é monarquia.
Os funcionários a vêem e já abrem um sorriso; sabem que a gorjeta será boa.
E assim tem sido desde que sua avó morreu cinco anos atrás – sua avó, que passou a vida toda apostando nas loterias da Caixa e próxima ao fim venceu um prêmio enorme do qual nunca pôde desfrutar.
Mariana estava determinada a seguir esse ritual de família, e assim começaram suas jornadas ao Paraguai.
Seu jogo favorito era a roleta, apesar dela saber se virar muito bem no Pôquer e arriscar no Blackjack.
Poucas foram as vezes em que ela ganhou, e, nessas ocasiões, a emoção da vitória era tanta que acabou levando a novas derrotas.
O dinheiro, porém, após cinco anos de gastos ilimitados, chegou ao fim.
Em sua última tentativa de honrar a memória apostadora de sua avó, foi pra roleta e jogou tudo no dia de sua morte, o 13 preto.
“Foi sorte”, disseram quando ela venceu.
Venceu, pegou o dinheiro e, para vencer de novo, não voltou mais ao cassino.
“Foi sorte”, continuaram dizendo na mesa após ela sair.
Mas, se perguntarem para Mariana, ela dirá:
“Foi persistência.”