A cidade de Campinas estava a mil.
Era a final do campeonato e os times eram de bairros vizinhos.
Diziam que o Estado ia parar para ver o jogo, mas nenhuma cidade ficou como Campinas.
E ninguém ficou como Seu Almiro.
Seu Almiro era fanático pela Ponte Preta desde que se conhecia por gente.
“Torcia com meu pai quando era jovem”, sempre dizia quando questionado sobre sua maior paixão.
Maior, sim, pois apesar de ter muitos amigos, diversos colegas, esposa e filhos, era a torcida da Ponte Preta que ele chamava de família.
Foi com eles que ele passou pelos momentos mais adversos de sua vida, sempre refletidos nas duras campanhas que seu time havia enfrentado quando jogou junto aos gigantes do futebol brasileiro.
Porém, assim como a Ponte, Seu Almiro era uma pessoa honrada; nem seus piores anos foram suficientes para destruí-lo.
Claro, muito disso foi porque teve o suporte em casa para que sua autodestruição não atingisse um patamar irreversível. Mas ele não via dessa forma. O que ele via era a Ponte Preta; única e exclusivamente, a Ponte Preta.
Por isso, não é de se espantar que quando soube que o último jogo do Paulistão seria contra o Guarani, no estádio da Ponte e valendo um título, Seu Almiro atingiu seu ápice.
“Finalmente”, ele pensou. Pensou, pois palavras não seriam o suficiente para expressar seu sentimento.
O sentimento que um torcedor tem pelo time é e sempre foi inexplicável.
Nos seus grupos de mensagens, a vitória da Ponte era dada como certa.
“Tá fácil, nem que fosse contra o Palmeiras esse ano é nosso!”, dizia um.
“Se não for pelo menos 3-0 a gente jogou mal.”, dizia outro.
Em meio às nossas bolhas sociais, nossa verdade sempre parece irrefutável.
Quando finalmente a bola começou a rolar, porém, essas “verdades” se apresentaram como fatos concretos.
Os jogadores da Ponte Preta pareciam recém saídos de uma Copa do Mundo, jogando com toda garra e qualidade que alguns saudosistas dizem não existir mais no futebol brasileiro.
Já no primeiro tempo o 3-0 chegou, e se tornou aquelas histórias mágicas que passam de pai para filho, e quando o filho se torna pai, ele a conta de novo.
Seu Almiro estava no estádio desde algumas horas antes do jogo começar, fazendo barulho com a torcida que ele tem como família. Vibrou em cada drible e comemorou cada gol como se fosse o último que veria em sua vida.
Quando soou o apito final, se lembrou de quando torcia quando criança, cada jogo sofrido como se sua vida inteira estivesse esperando este exato momento.
E caiu no chão, cheio de vida e lágrimas. Só não achavam que tinha infartado pois soluçava de tanto chorar.
Muitos dos que conhecem Seu Almiro se perguntam o que de fato ele ganhou neste dia.
Afinal, o que um título de um torneio regional poderia significar para um homem barbado como ele?
Sua resposta para essa pergunta era simples, mas convincente.
“Só torcendo pra saber.”
E ele sabia.
Como ninguém.