I
o dia te acolheu,
teus cabelos, os ventos tocaram,
teus lábios fechados
abriram-se e tocaram-se.
os passados voavam
de conversa à conversa
tipo os pássaros que
se ajuntam nos postes,
e da janela, alguém costurava um vestido;
e na calçada, mesas enfileiradas
e alguma alegria contagiante
que emanava d’uma mulher que dançava
àquela música,
com aquele cigarro,
com aquele copo
que não parava
de transbordar
e a solidão daqueles braços ao ar
como se dançasse com alguém,
mas não tendo ninguém,
somente eu a olhar.
II
quadros em quartos
esperando alguém para
os limpar.
quartos diuturnamente vazios
esperando à cama
alguém para ali descansar.
vai-vem de papos furados,
conversas curvas e rajadas
de olhares de deboche, de charme.
29 graus de ódio.
várias conferidas no relógio.
estresse, esquece, estresse.
ódio, muito calor.
pouco sabor desse café,
muito amargor dessa saliva.
III
— acorda cedo,
vai pra escola,
volta pra casa,
acorda tarde,
perde o horário.
chora, quero ir embora,
passa cola, caneta,
salivar ao ver cerveja,
namora, chora de novo,
-me dá cola?
vai pra casa,
já era hora.
Autor:
Gabriel Vidal Guedes
Ótimos poemas.
O último romântico do mundo.