Iniciando mais uma série de matérias, passaremos a falar sobre a franquia “Mortal Kombat Legends”. E para a loucura dos fâs saudosos do game, começaceremos com “Mortal Kombat Legends: A Batalha dos Reinos”, que é como um golpe que chega sem aviso, acelerando o coração do fã e espatifando qualquer pretensão filosófica de redenção. Nesta animação lançada em 2021, vemos a continuação direta de “Scorpion’s Revenge”, mergulhando de cabeça no universo violento e hiperestilizado de Mortal Kombat, onde os destinos são decididos à base do punho — e geralmente com uma espetacularidade gráfica digna do título. A história gira em torno do grande torneio, e agora Liu Kang, Johnny Cage, Sonya Blade e outros guerreiros são convocados para um confronto que promete encerrar, de uma vez, o ciclo eterno de conflitos entre a Terra e a Exoterra, sob o olhar raivoso de Shao Kahn. O filme dá destaque tanto ao arco de Liu Kang tentando cumprir seu destino quanto à trama paralela de Scorpion e o artefato Kamidogu, enquanto Sub-Zero encarna aquele papel do vingador jovem espreita.
Aqui, não há tempo para existencialismos: a ação é frenética, os combates são brutais, e os icônicos fatalities ganham vida em frames que mais parecem pinturas de um entusiasta do sadismo digital. O roteiro é direto, fala pouco, golpeia muito. O visual bebe da fonte do Studio Mir, famoso por outras animações ligadas a franquias (como The Witcher e Superman), o que garante aquela plasticidade bonita do sangue pingando em slow motion. Mas o mais curioso está na abordagem dos personagens: Shao Kahn finalmente ganha uma aura de vilão inteligente e ameaçador, enquanto Raiden exibe um coração raro em um ambiente em que empatia é quase um erro tático. O destaque para a interação de Scorpion e Sub-Zero — saindo do binário vingança para uma reconciliação inesperada — mostra que sim, até em Mortal Kombat pode haver espaço para nuances (entre uma decapitação e outra, claro).
No Brasil, “A Batalha dos Reinos” está disponível na HBO Max, oferecendo fácil acesso para quem deseja experimentar essa overdose de adrenalina animada. E para os leitores que buscam reflexões mais profundas, esse filme serve como um espetáculo cinético que reconcilia fatalismo com entretenimento puro. Em um mundo de animações que tentam filosofar demais ou cair na simplicidade adolescente, “A Batalha dos Reinos” entrega o que promete: pancadaria estética, mitologia saturada e a eterna luta entre os mundos — talvez porque, numa animação onde tudo é extremo, a única filosofia possível seja mesmo aquela escrita em sangue pixelado.
Nota: 7,0.

