Na esteira da nossa série de matérias sobre a franquia “Missão Impossível”, em um universo onde a confiança é moeda rara e a traição é quase rotina, “Missão Impossível – Nação Secreta” (2015) emerge como uma elegante coreografia de paranoia, ação vertiginosa e ironia política. Tom Cruise retorna ao papel de Ethan Hunt, liderando a desmantelada IMF contra o Sindicato — uma organização de ex-agentes tão perigosos quanto obscuramente burocráticos. O roteiro, conduzido pelo olhar afiado de Christopher McQuarrie, nos arrasta por cenários tão diversos quanto a fria Viena e o calor de Casablanca, transformando o mundo em tabuleiro para uma conspiração que poderia bancar o caos global com apenas alguns bilhões “redirecionados”.
O longa baila entre set pieces de tirar o fôlego e uma trama que, por vezes, parece rir dos próprios clichês de espionagem. O Sindicato, afinal, é menos uma caricatura de vilão clássico e mais a sombra distorcida do próprio Estado, sempre pronto a devorar suas crias — apenas para, no fim, retornar ao status quo, como quem troca uma máscara no jogo institucional. No miolo dessa aventura, a personagem Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) surge como contraponto melancólico e complexo ao heroísmo quase robótico de Hunt — ambos, marionetes em um teatro onde confiar pode ser mais letal que uma bomba-relógio.
O filme, disponível atualmente em plataformas como Netflix, Disney Plus, Paramount Plus, Globoplay e Telecine, encanta ao entregar não só ação de ponta, mas reflexões próprias de um tempo em que governos, agências e “organizações secretas” se indistinguem sob a luz fosca dos interesses de Estado. É arte sobre o cinismo institucional, sobre a erosão da confiança no mundo da alta política. O desfecho, em seu toque quase cínico, reafirma: o ciclo das instituições é tão interminável quanto as missões de Ethan — só muda o figurino, jamais o teatro.
Nota: 8,5/10.

