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terça-feira, 28 de outubro de 2025

Cinema: “Missão Impossível – Nação Secreta” e o Labirinto da Desconfiança

Na esteira da nossa série de matérias sobre a franquia “Missão Impossível”, em um universo onde a confiança é moeda rara e a traição é quase rotina, “Missão Impossível – Nação Secreta” (2015) emerge como uma elegante coreografia de paranoia, ação vertiginosa e ironia política. Tom Cruise retorna ao papel de Ethan Hunt, liderando a desmantelada IMF contra o Sindicato — uma organização de ex-agentes tão perigosos quanto obscuramente burocráticos. O roteiro, conduzido pelo olhar afiado de Christopher McQuarrie, nos arrasta por cenários tão diversos quanto a fria Viena e o calor de Casablanca, transformando o mundo em tabuleiro para uma conspiração que poderia bancar o caos global com apenas alguns bilhões “redirecionados”.

O longa baila entre set pieces de tirar o fôlego e uma trama que, por vezes, parece rir dos próprios clichês de espionagem. O Sindicato, afinal, é menos uma caricatura de vilão clássico e mais a sombra distorcida do próprio Estado, sempre pronto a devorar suas crias — apenas para, no fim, retornar ao status quo, como quem troca uma máscara no jogo institucional. No miolo dessa aventura, a personagem Ilsa Faust (Rebecca Ferguson) surge como contraponto melancólico e complexo ao heroísmo quase robótico de Hunt — ambos, marionetes em um teatro onde confiar pode ser mais letal que uma bomba-relógio.

O filme, disponível atualmente em plataformas como Netflix, Disney Plus, Paramount Plus, Globoplay e Telecine, encanta ao entregar não só ação de ponta, mas reflexões próprias de um tempo em que governos, agências e “organizações secretas” se indistinguem sob a luz fosca dos interesses de Estado. É arte sobre o cinismo institucional, sobre a erosão da confiança no mundo da alta política. O desfecho, em seu toque quase cínico, reafirma: o ciclo das instituições é tão interminável quanto as missões de Ethan — só muda o figurino, jamais o teatro.

Nota: 8,5/10.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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