
Ás vezes, é preciso estar ”só” para que tenhamos a noção de que não estamos sozinhos. Temos uma percepção inexata, de que estar com alguém é somente quando vemos esse alguém de forma corpórea. No silêncio da madrugada, enquanto; os pássaros se aquietam em seus ninhos, o coração bate; os olhos lacrimejam, e o olhar atravessa a janela, penetrando à escuridão da noite, memórias e lembranças, o tempo me faz lembrar de minha companhia, não seria uma homenagem póstuma, porque; minha companhia nunca morreu! Ás vezes; matamos as pessoas, mesmo estando elas vivas. A noite vai passando, na mesma vicissitude em que a vida pede passagem.
Duas horas após a meia noite, e eu aqui sentado em minha escrivaninha, com os pensamentos vagando pelo tempo, e o tempo, me pedindo um tempo. A alma pensativa, e a noite sussurrando -me, suas elucubrações. Fui lá nos idos de minha infância, buscar meus dias de criança, a me ressignificar no tempo. Quanto mais tento encontrar uma explicação, mais compreendo o sentido de não estar só. Quando tudo se cala, até aquilo que não se percebe passa a fazer barulho na alma. Na estrada, os lampejos de carros passando, cada qual; a caminhar em busca de um destino.
Quanto mais penso que estou só, maior é a certeza de que não estou sozinho. Entre um ruído esporádico e sucinto, entre a luz do farol e o adormecer da noite, lembrei de meu pai, e busquei, meu primeiro Pai, na comparação, o primeiro é rico, o segundo era pobre; os valores entre eles se inverteram, até que me dei conta; da riqueza de ambos. Nascemos nus, e por causa de nos vestir-nos e nos revestirmos, que escondemos nossa pobreza. A noite, a escuridão, a ausência da agitação, nos torna ouvintes de nosso próprio ser. As vozes, do interior começam a emudecer nossos temores. Lembramos de nossos amores, até que o tempo me faz assim.
Enquanto escrevo, me procuro dentro de mim. A minha companhia não visível, me vê; e as palavras de sua presença me tocam a alma, como o vento balançando ás folhas de uma árvore plantada à beira do rio. Fico imaginando o dia , não como uma desvalia; mas como uma oportunidade de reencontrar a vida, ela tão efêmera, ás vezes, lúcida, e outras estúpida, incapaz de me compreender. Meus pais me observam, um que se foi, e outro; que nunca deixou e nem deixará de existir. O abraço de um pai, e o beijo de uma mãe, como é importante, mesmo ma imaginação, ainda; que se faça presente, apenas nas nuances de um pensamento.
Quanto mais, a noite pega no sono, mais presente, e sente a presença dos pais. O que já se foi e o que nunca deixará de ser. O pensamento vai correndo, mas ao mesmo tempo, se amansa, como as águas dormentes do rio. Até os pássaros respeitam seu silêncio. Meus olhos estão cansados, meu corpo sente o cansaço, e o até daqui á pouco, me incita ao descanso. Meu Pai que se foi, meu irmão está contigo; e meu Pai; que nunca deixará de existir, me faz descansar, porque, deito e logo pego no sono, porque tu me fazes dormir tranquilamente. E assim, ouvi a voz de minha própria companhia. Deus nos abençoe!!!!!!!!!!!!
