18.1 C
São Paulo
terça-feira, 28 de outubro de 2025

Cinema: “Ladrões” – O beisebol, o gato e o abismo

“Ladrões” (2025), dirigido por Darren Aronofsky e estrelado por Austin Butler, Zoë Kravitz e Matt Smith, é um suspense criminal de 107 minutos produzido pela Sony Pictures e disponível no Amazon Prime Video. O longa adapta o romance de Charlie Huston, transformando um enredo simples em uma trama de caos urbano e ironia. Hank Thompson, ex-jogador de beisebol e atual barman, vê a vida desandar quando aceita cuidar do gato do vizinho. O gesto banal torna-se o estopim de uma espiral de violência, corrupção e azar, onde mafiosos, trapaceiros e policiais desonestos o empurram ao limite entre o ridículo e o trágico.

Aronofsky, conhecido pelos mergulhos intensos na psicologia humana, como em Cisne Negro e A Baleia, aqui troca o peso do drama existencial pelo humor sombrio e uma estética pop mais leve, quase farsesca. “Ladrões” reflete o olhar de um diretor brincando com o absurdo, mas sem abandonar sua obsessão por personagens à beira do colapso. Hank, com sua raiva contida e torpeza moral, representa o homem comum tragado por engrenagens que ele nem entende. Entre o caos das ruas e o beisebol que já não joga, vive um retrato do cidadão contemporâneo: cansado, deslocado e um tanto cínico.

A Nova York de 1998, recriada com precisão e sujeira, torna-se mais que cenário — é o espelho de um mundo que tenta esconder o colapso sob luzes e vitrines. O gato, símbolo improvável de destino e ruína, soa como o “pecado original” do roteiro: uma gentileza que custa caro, lembrando-nos de como o acaso governa a vida urbana. Entre explosões, perseguições e humor ácido, o filme convida o público a rir do desastre — o que talvez seja a forma mais madura de olhar o próprio caos.

Não é o Aronofsky mais profundo, mas é o mais espirituoso. “Ladrões” arranca gargalhadas nervosas de quem reconhece que controlar o destino é apenas outra ilusão vendida nas esquinas do capitalismo. Ao fim, o que o diretor rouba de nós é a sensação de estabilidade — e o que resta é a vertigem.

Nota: 8,0/10

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Leia mais

Patrocínio