Procrastinar. Ato de adiar tarefas importantes para um depois que muitas vezes nunca chega. Conhecido também, vulgarmente, como ‘preguiça’, está associado àquele fofo bichinho que vive agarrado a um galho e que muito ‘len-ta-men-te-re-a-li-za-seus-mo-vi- men-tos-ci-né-ti-cos, que é a capacidade do corpo de realizar qualquer trabalho em movimento para que coisas em si e ao seu redor sejam transformadas.
A procrastinação também já foi associada ao ‘desânimo’, sentimento combatido até nas sagradas escrituras, e é precisamente por isso que precisamos conhecer o que está por trás da procrastinação.
Iniciemos pelo prefixo. A pre-crastinação, no sentido contrário, também existe, apesar de ninguém quase falar sobre ela. É o desejo frenético de realizar uma tarefa de imediato e terminá-la o mais rapidamente possível, muitas vezes até precipitadamente, antes de amadurecer o raciocínio. Já a pro-crastinação funciona opostamente.
Tendo oportunidade de estudar mais a respeito e me aprofundar nas razões desse comportamento, vejo que a procrastinação merece uma atenção maior do que lhe tem sido dada. Apesar de não haver um estudo mais avançado e específico sobre o tema, está provado que algumas das razões para se chegar ao estado de procrastinação já foram analisadas cientificamente, e alguns fatos interessantes merecem ser revelados.
Primeiramente, não se espantem, mas dependendo da origem, e do tempo que se instala, a procrastinação é um dos comportamentos mais difíceis de ser modificado. Talvez pelo cunho de banalidade que atribuímos a ela. Podemos associá-la ao vício do cigarro. Sabemos que faz mal, mas não assusta, nem causa uma morte repentina, talvez por isso não seja proibido. Assim é também com a procrastinação. Não assusta. Logo, a pessoa dificilmente procura ajuda para se livrar dela.
O motivo da procrastinação ser considerada banal é o mesmo que um viciado em tabaco se permite para continuar fumando. É aquela sensação ‘prazerosa’ que faz com que ele se sinta confortável, relaxado, despreocupado. Uma sensação de ‘morbidade’, malemolência, saciada pelo doce ‘far-niente‘ diante de um mundo recheado e coberto só de demandas, que só vêm para atrapalhar o sossego.
A outra grande razão, é que muitas vezes a procrastinação está associada a um simples traço de personalidade, quando muito de caráter, onde na verdade o que existe é uma perigosa escassez de conscienciosidade (falta de disciplina, cumprimento de deveres e determinação).
Hoje a neurociência e a psicologia avançam no diagnóstico dessa ‘tendência’ no indivíduo para procrastinar. Abordam a Terapia Racional Emotiva desenvolvida por Albert Ellis que trata a procrastinação como um fracasso auto regulatório (entre pensamentos, comportamentos e emoções) com significativo impacto na vida do próprio procrastinador e das pessoas ao seu redor.
A Terapia Racional Emotiva busca fazer com que a pessoa primeiro se conscientize da procrastinação e procure substituí-la pelo engajamento na(s) tarefa(s) que lhe pertence(m), identificando e modificando crenças procrastinatórias irracionais, A terapia tem obtido relevantes resultados no desenvolvimento profissional da pessoa, muitas vezes conduzido pelo inovador processo de Coaching.
Crenças metacognitivas relacionadas a afetos negativos fazem com que um procrastinador crônico pense e sinta quando essas crenças são ativadas resultando no adiamento da tarefa o que pode se transformar numa fonte de angústia e até sofrimento. Muitas vezes essas cognições estão relacionadas a afirmações autodepreciativas, hostilidade a pessoas (por vezes, afetos parentais muito rígidos), assim como um grau de aversividade à própria tarefa.
O medo do fracasso também é algo relevante para o procrastinador, assim como a necessidade que ele tem de ser perfeito. Acentuar crenças racionais é importante para desmitificar padrões limitantes inatingíveis.
O obstáculo a transpor se torna maior quando o procrastinador, inconscientemente, encara a procrastinação como algo positivo, como uma estratégia inteligente para uma resolução melhor da tarefa e vai adiando a sua execução a esse pretexto. A conscientização nesse caso se torna mais complicada, pois a pessoa não se sente incomodada por agir dessa forma.
Muito comum em estudantes, a procrastinação tem se revelado também presente no meio do trabalho, pela falta de motivação e outros vícios comportamentais que precisam ser corrigidos e que, na maioria dos casos, são, hoje, mais fáceis de serem diagnosticados e tratados, através da conscientização da própria pessoa. Um passo importante para que ela se liberte de algo que influi negativamente no seu futuro e na sua qualidade de vida.
Autora:
Kawer
Texto maravilhoso!