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sábado, 20 de dezembro de 2025

Entre Técnica e Lembrete: Um Encontro Poético com “Primeiras Confissões” de Roberto Wagner Lima Nogueira

Em um mundo marcado pela velocidade dos acontecimentos, pela fragmentação das certezas e pelo constante deslocamento de paradigmas, “Primeiras Confissões – Viver na Pós-Modernidade”, do professor Roberto Wagner Lima Nogueira, surge como uma obra que nos chama a pausar, a refletir e a sentir o pulsar dessas mudanças em sua dimensão mais humana e complexa. Publicado em 2025 pela Lumen Juris, o livro traz uma série de crônicas e reflexões que não buscam respostas simples. Num tom discreto e atento, ele convida o leitor a uma jornada interior pelos labirintos da condição contemporânea.

O que torna essa obra verdadeiramente singular não é apenas o conteúdo das reflexões, mas o modo vivo e humano com que são apresentadas. Roberto Wagner, mestre em Direito Tributário, professor universitário e procurador de carreira do município de Areal, confere a essa escrita um olhar ampliado sobre o real. Nessa convivência com o mundo concreto das instituições, percorrida com rigor técnico e não pouca sensibilidade, ele nos apresenta mais que ideias. Ele oferece vislumbres de compreensão sobre o tempo em que vivemos, impregnado de incertezas, mas também de um pulsar indomável por sentido.

Quando menciono sua escrita, não me refiro a este livro em si, que não tem abordagem jurídica nem se propõe a ser uma obra poética, mas sim ao desempenho do professor enquanto procurador. Em sua carreira no município de Areal, Roberto Wagner mostrou exemplar domínio da técnica jurídica. Ele traduziu comunicações especializadas em textos compreensíveis e próximos aqueles que não transitam no universo do Direito. É esse exemplo que tem sido para mim fonte constante de inspiração. Ele revela que não há contradição entre o rigor intelectual e uma linguagem que se abre para o entendimento do outro. Pelo contrário, é essa conjugação que fortalece um discurso verdadeiramente eficaz.

Cada crônica de “Primeiras Confissões” se oferece como uma espécie de espelho para o leitor. São textos que não clamam por soluções definitivas. Eles nos envolvem numa atmosfera onde o tempo parece ao mesmo tempo dolonte e promissor. Com uma linguagem acessível, desprovida de jargões ou vaidades, o autor deixa transparecer a poesia da vida comum, o lirismo das pequenas decisões e o peso das escolhas silenciosas. A pós-modernidade, nesse olhar sensível, é um cenário plural. Ele é feito de fragmentos que desafiam nossa capacidade de compreensão e, ao mesmo tempo, nos convidamos a reinventar-se diariamente.

A densidade desses textos não é um equilíbrio delicado entre o pensar e o sentir. Roberto Wagner não abre mão de sua condição crítica e reflexiva, tão cara a um acadêmico e pensador. Ele não se restringe a um universo frio e abstrato. Sua escrita acolhe as contradições do mundo real. Ela permite que a razão dance com a emoção. Esta é uma das maiores virtudes do livro. Ele demonstra que uma reflexão sobre o ser e o tempo pode ser enriquecida pela experiência sensível, sem perder sua consistência intelectual.

Minha relação com o autor vai além da admiração pela obra aqui apresentada. Roberto Wagner é, para mim, mais que um professor. Ele é um mentor e um farol na trajetória profissional e acadêmica. Ele tem sido fonte de ensinamentos preciosos sobre como equilibrar técnica e sensibilidade, precisão e humanidade. Esse equilíbrio o distingue, principalmente na função delicada do procurador. Ali se exige tanto o conhecimento jurídico aprofundado quanto a capacidade de dialogar e construir entendimentos justos com a sociedade e as autoridades. Sua atuação pública é um exemplo vivo de que o Direito pode e deve ser uma ferramenta de inclusão e clara.

Não posso deixar de registrar meus sinceros agradecimentos pela menção ao meu nome em uma das crônicas do livro. Nela, Roberto Wagner aborda o Instituto de Previdência dos Servidores de Areal (AREALPREV). Esse gesto vai muito além do simbolismo. Ele reforça a conexão profunda que temos. Ele demonstra a consideração e o respeito recíprocos que permitem nossa relação. Esse reconhecimento público, ainda que breve, tem um valor imenso na solidificação deste vínculo intelectual e humano.

Convido o leitor a mergulhar nesta leitura que reveste o cotidiano de significado. Ela nos afastou por um momento da superficialidade. Ela abre espaço para a contemplação crítica. “Primeiras Confissões” não é um tratado rígido nem uma mera coleção de pensamentos soltos. É uma obra que busca instigar o pensamento e, acima de tudo, tocar a alma daquela que lê. É um convite para consideração que, num mundo em que as certezas se esgarçam, a reflexão paciente e sensível permanece como um porto seguro.

Roberto Wagner Lima Nogueira, com sua trajetória multifacetada de mestre, procurador de carreira e professor, nos mostra uma maneira profunda e digna de ser no mundo. Ele nos ensina que a palavra escrita carrega o poder de iluminar, de aproximar, de ensinar e, sobretudo, de emocionar. Este livro é o testemunho de que o exercício intelectual, quando aliado à vivência e à sensibilidade, pode produzir frutos que transcendem a técnica. Eles alcançaram também o âmago da experiência humana.

Que esta leitura inspire todos os que buscam não apenas entender o mundo jurídico, acadêmico ou social, mas vivê-lo com a atenção, o cuidado e a profundidade que ele merece. Que ela incite a reflexão, a autotransformação e, acima de tudo, a coragem de continuar escrevendo, dialogando e sentindo o tempo em que vivemos.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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