Um Boeing 777 aterrissa em Nova York com luzes apagadas e portas seladas, revelando corpos inertes e um vírus ancestral que transforma humanos em criaturas pálidas, de línguas estiletes e olhos leitosos, famintas por sangue. Lançada em 2014 pelo FX, criada por Guillermo del Toro e Chuck Hogan a partir de sua trilogia literária, a série atravessa quatro temporadas até 2017, com o epidemiologista Ephraim Goodweather à frente de uma luta desesperada contra o apocalipse vampírico. Disponível no Disney+ no Brasil, ela pulsa com imagens viscosas de vermes infectantes e cidades em colapso, ecoando o terror biológico que del Toro tão magistralmente conjura.
A narrativa irrompe como uma febre, com Goodweather, vivido por Corey Stoll em performance crua e atormentada, desvendando a praga que devora Nova York, enquanto Abraham Setrakian, o caçador idoso interpretado por David Bradley, traz o peso de horrores passados como o Holocausto para caçar os strigoi. As criaturas fogem do romantismo crepuscular, tornando-se parasitas repulsivos, metáfora viva da fragilidade societal ante epidemias e corrupção, onde governos falham e o individualismo sucumbe ao contágio coletivo. Del Toro infunde sua visão fantástica em cenários sufocantes, com próteses grotescas que fazem a carne humana parecer efêmera sob a luz mortiça.
Essa tensão viral ressoa em tempos de pandemias reais, questionando como a ganância e a negação aceleram o colapso, transformando vampiros em alegoria de biopolítica e desigualdade, onde os pobres viram os primeiros famintos. A série devora clichês do gênero, substituindo galãs por monstros degenerativos, e convida à reflexão sobre sobrevivência ética em meio ao caos, com personagens dilacerados entre família e salvação global. Seu ritmo alucinante, especialmente na primeira temporada, captura o pavor da propagação inexorável, deixando o espectador imerso em um mundo onde a ciência colide com o sobrenatural ancestral.
Nota: 8/10

