Drácula: Uma História de Amor Eterno, lançado em 2025 sob a direção de Luc Besson, revisita o mito criado por Bram Stoker com o cuidado de quem entende que por trás do vampiro existe, antes de tudo, um viúvo inconformado com a finitude do amor. Devastado pela morte de Elisabeta no século XV, o príncipe que renuncia a Deus e se converte em vampiro encarna a figura de um homem que prefere a maldição à aceitação do luto, inaugurando uma eternidade feita de espera, culpa e desejo. Quando, séculos depois, em uma Londres envolta em névoa e vitrines a gás, ele encontra Mina – o rosto de sua amada ressurgido em outra vida –, a trama se transforma numa perseguição romântica e obsessiva, na qual cada encontro parece um sacramento profano entre a fé traída e a carne ainda insistente.
Com cerca de duas horas de duração e classificação para maiores de 16 anos, o filme aposta num romance gótico em que a escuridão não é mero cenário, mas expressão da própria alma do protagonista. Caleb Landry Jones compõe um Drácula frágil e feroz, dividido entre a fome e o afeto, enquanto Zoë Bleu Sidel, no duplo registro de Elisabeta e Mina, costura passado e presente com uma melancolia quase espectral, fazendo da reencarnação não um truque de roteiro, mas a imagem de um amor que se recusa a morrer. Christoph Waltz, como um sacerdote à moda de Van Helsing, desloca o conflito para o campo da moralidade e da fé, lembrando que não há monstruosidade que não dialogue com aquilo que a religião tentou, em vão, domesticar.
No Brasil, Drácula: Uma História de Amor Eterno ainda não chegou a um catálogo de streaming por assinatura, estando disponível de forma oficial apenas para aluguel e compra digital em plataformas como o Prime Video e Apple TV, o que reforça a sua permanência por enquanto como uma experiência mais “de vitrine” do que de acesso massivo. Essa ausência em serviços mais populares cria um contraste curioso com o próprio filme, que trata justamente de um amor que insiste em retornar, enquanto o espectador precisa fazer um esforço adicional para encontrá-lo nas plataformas legais. Há, evidentemente, opções irregulares e piratas espalhadas pela internet, mas a obra, por sua dimensão visual e sonora, merece a penumbra respeitosa de uma sala escura ou, ao menos, a tela generosa de um streaming legítimo.
Talvez a maior força de Drácula: Uma História de Amor Eterno esteja na forma como Luc Besson transforma clichês vampíricos em metáforas contemporâneas: o sangue, aqui, não é apenas o combustível do monstro, mas a imagem de vínculos que aprisionam, de promessas que não soubemos deixar ir. A imortalidade aparece mais como condenação do que privilégio, um looping afetivo em que o protagonista revive, ad infinitum, o momento da perda, incapaz de aceitar que o amor possa existir sem a posse total do outro. Ao mesmo tempo, Mina encarna a pergunta incômoda que atravessa o filme: até que ponto um grande amor que nos reivindica de outras vidas é uma benção, e quando passa a ser uma violência contra o direito de recomeçar?
Visualmente exuberante, o filme trafega entre castelos iluminados por velas, igrejas em meia sombra e uma Londres que mais parece um sonho febril, criando um ambiente em que o romance nunca se separa do perigo. Cada enquadramento parece desenhado para lembrar que toda paixão extrema carrega em si um pacto com a destruição, e que não há gesto de entrega que não esteja levemente manchado de sangue simbólico. Drácula: Uma História de Amor Eterno é, assim, menos uma história de terror e mais uma liturgia do apego, um conto sobre a dificuldade humana – demasiado humana – de admitir que o amor também precisa aprender a morrer.
Nota: 8,5/10.

