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sábado, 20 de dezembro de 2025

Banco Master: Quando a Previdência Vira Cassino Político

O escândalo do Banco Master é mais do que uma “fraude financeira” abstrata; é um roteiro repetido de como o sistema político brasileiro transforma dinheiro de trabalhador em ficha de cassino, com aval formal, silêncio cúmplice e uma boa dose de cinismo. No centro dessa história, a figura de Cláudio Castro não é um mero coadjuvante: é o governador sob cuja gestão o RioPrevidência despejou montantes bilionários em operações de altíssimo risco com o Banco Master, mesmo depois de alertas explícitos do Tribunal de Contas do Estado apontando para perigos e pensionistas. Quando um fundo que deveria garantir um velho de 235 mil servidores se comporta como especulador amador, não se está diante de um “erro técnico”, mas de uma escolha política.

Os números falam por si: o TCE-RJ envolve exposição de bilhões do RioPrevidência a fundos e títulos ligados ao grupo Master, com rentabilidade inferior até à poupança, ou seja, sequer havia a desculpa da “busca por alta performance” para explicação do risco reforçado. Ainda assim, mesmo após alertas formais e determinação para cessar novos investimentos, os aportes seguiram, e em valores que beiram ou superam a casa de R$ 1 bilhão, a depender da fonte, em um banco já sob fortes suspeitas de fraude, pirâmide financeira disfarçada e grave crise de liquidez. Quando a fiscalização grita “cuidado com o precipício” e o governo acelera, não há como separar a gestão temerária de responsabilidade direta de quem ocupa o Palácio Guanabara.​​

É nesse contexto que as ligações políticas com o Banco Master aparecem não como detalhe, mas como peça-chave do tabuleiro. No Rio, Cláudio Castro autorizou que o RioPrevidência se tornasse, em certos fundos, o único investidor relevante de estruturas criadas ou administradas pelo conglomerado Master, transferindo o dinheiro dos servidores em combustível para uma engenharia financeira que hoje está sob suspeitas criminais, com acusações de fraude de até R$ 12 bilhões e prisão de dirigentes do banco. No Distrito Federal, o entorno de Ibaneis Rocha viu o Master se aproximar de operações envolvendo o banco público BRB, em arranjos que levantaram por muito tempo a pergunta sobre até onde iria a promiscuidade entre o privado quebrado e o público saudável. No Paraná, o governo Ratinho Junior surge associado a movimentações do banco em operações relevantes de mercado, privatizações e negócios estruturados, compondo esse mesmo mosaico de proximidade entre o poder estadual e uma instituição financeira que hoje é ocasional de escândalo.​

O caso do Rio, porém, é de uma crueldade particular: aqui, não se trata apenas de risco fiscal abstrato, mas de um ataque direto ao colchão de segurança de servidores que já convivem com atrasos, parcelamentos e incertezas crônicas. O TCE fala em “ausência de vantajosidade” e identifica aportes com desempenho piores que o mais básico dos investimentos, enquanto o governo insiste em notas técnicas que afirmam normalidade e adimplência, como se tudo não passasse de mal-entendido burocrático. É o velho truque: quando dá lucro, o mérito é da gestão “moderna”; quando a pirâmide desaba, é “mercado”, “crise”, “choque externo”.

No fim, o escândalo do Banco Master expõe algo estrutural: governadores que tratam fundos previdenciários como caixa político-financeiro, órgãos de controle que precisam quase berrar para serem ouvidos, e uma cultura de impunidade em que colocam bilhões de dinheiro público em operações obviamente arriscadas não barra reeleições nem carreiras. A ênfase de Cláudio Castro não é exagero, é consequência: sob sua gestão, o RioPrevidência foi empurrado para o centro de um esquema que hoje ameaça o futuro de famílias de aposentados e pensionistas, enquanto o discurso oficial tenta reduzir tudo o ruído contábil. Se houver algum aprendizado dessa crise, ele passa por tratar o investimento de fundo previdenciário como assunto de segurança social, e não como playground de banqueiro esperto aliado ao governo complacente.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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