Era uma manhã de setembro quente e úmida em Fortaleza, um dia infeliz para quem
buscava ajuda médica pelos hospitais públicos da cidade. O corpo pedia clemência, a
fratura do tornozelo solavancava o pé de um lado pro outro, já não havia resistência que
sustentasse a peregrinação pelo SUS, apenas o desejo desesperado de recostar o corpo
em alguma cadeira encardida e gasta de sofrimento alheio.
O relógio do celular marcava 9h40 quando peguei a ficha para passar pela triagem do
famoso e popular Frotinha da Parangaba. Por um instante, esqueci a minha dor para
me assombrar com a dor dos outros; nem nos meus delírios mais macabros tinha
testemunhado tantos relatos de agonia. Na fila, de pé, eu observava atentamente
aquelas almas moribundas, esperando a vez para pegar a outra fila. Era menino, mulher
de todo tipo e idade, operários vitimados por acidente de trabalho, velho de “dar na
canela”, doido, gente de sexo indefinido (por mim), um bocado descalço, outros com
roupa de dormir ou quase sem roupa.
Autora:
Magda Lima
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