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segunda-feira, 27 de outubro de 2025

Cinema: Para além da batalha – “Liga da Justiça, o corte do diretor”

Em meio ao “reiniciar do universo DC”, e boatos sobre a venda da Warner, existe algo fascinante ao revisitar “Liga da Justiça – Versão do Diretor”, lançado em 2021 sob o comando de Zack Snyder. O que se vê não é apenas uma versão estendida de um blockbuster, mas um épico que redefine o conceito hollywoodiano de super-heróis, recuperando a densidade e o lirismo perdidos na pressa da indústria pela entrega rápida. Disponível na HBO Max, esta releitura apresenta quatro horas que passam como um respiro de oxigênio em meio ao colapso narrativo do corte original, devolvendo aos fãs não apenas cenas cortadas, mas uma alma inteira, sangrando em cada frame.

É impossível falar desta obra sem reconhecer que Snyder constrói um universo onde cada herói carrega não apenas poderes, mas uma dor profunda. Batman é movido por culpa e esperança; Superman, pela busca de pertencimento; Mulher-Maravilha, pela memória da guerra; Ciborgue, pelo exílio emocional; Flash, pelo tempo que escapa entre os dedos. Juntos, formam uma liga menos preocupada com uniformes e mais com angústias que poderiam muito bem ser humanas, comuns a qualquer pessoa amedrontada pela possibilidade de falhar. Este olhar sensível à vulnerabilidade, raramente visto em filmes do gênero, é o que transforma o longa em uma narrativa sobre os limites da redenção e da solidariedade.

As paletas de cor e o uso do slow motion constroem uma atmosfera quase litúrgica, em que cada ação parece ritualística, carregada de significados. Não por acaso, Snyder provoca reflexões sobre liderança, sacrifício, justiça e coletividade — temas que atravessam não só os quadrinhos, mas também os debates sociais e políticos de hoje. Olhar para a “Liga da Justiça” sob sua perspectiva é, portanto, encarar diretamente nossas utopias e falhas, nossos sonhos de união e as fissuras que se abrem justamente onde mais desejamos o encontro.

O filme, embora longo e por vezes indulgente, se revela necessário para que a arte de contar histórias do super-heroísmo seja recolocada em diálogo com as grandes questões humanas. Na plataforma HBO Max, a obra permanece disponível como símbolo de reivindicação autoral e como convite à reflexão: como construímos nossos heróis e que tipo de justiça desejamos seguir?

Nota: 8,5/10.

Manuel Flavio Saiol Pacheco
Manuel Flavio Saiol Pacheco
Doutorando e Sociologia e Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Mestre em Justiça e Segurança pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Especialista em Desenvolvimento Territorial pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).. Possui ainda especializações em Direito Tributário, Direito Constitucional, Direito Administrativo, Docência Jurídica, Docência de Antropologia, Sociologia Política, Ciência Política, Teologia e Cultura e Gestão Pública e Projetos. Graduado em Direito pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ). Advogado, Presidente da Comissão de Segurança Pública da 14º Subseção da OAB/RJ, Servidor Público.

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