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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Proibido envelhecer

É uma constatação: é proibido envelhecer! Vivemos em um tempo de juventude crônica, como se as marcas dos anos fossem uma espécie de doença a ser combatida.
Quem espera que ser velho significa ter a liberdade de dizer em público tudo o que pensa, ou dar de ombros para a moda e usar chinelo de dedo com calça social, camisa xadrez e um boné de brinde… Ah, livre para usar apenas o que é confortável. Ou, quem sabe, ser uma senhora que não esconde as varizes com um short colorido e colado, exibindo seu cabelo curto avermelhado… se enganou, já não é mais possível. Coitados do Seu Bastião e da Dona Dója que são velhos desde que eu era criança.
Dias desses, sentados na muretinha da nossa ágora atual, também conhecida como bar, chegamos à seguinte reflexão: o medo da velhice é, na verdade, o medo de morrer, como se somente os velhos morressem! E teme muito a morte a pessoa que acha que ainda não viveu tudo o que queria. Como poderia ter dito o velho Sêneca em um boteco estoico do passado, chegamos à conclusão de que se teme a velhice quando se vive pouco o presente.
Mas é claro que o nosso contexto é outro. O mundo da mercadoria inventa a doença e te vende a cura: pílulas, dietas, botox, plásticas. Tudo para esconder a óbvia passagem do tempo. E acredite, nada disso tem a ver com o envelhecer saudável. Para a suposta saúde, a incrível sociedade de mercado tem espaços para o velho: clínicas de repouso para quando você não tiver mais forças a serem sugadas pelo trabalho, bailes e ginástica. Claro, desde que você possa pagar por isso. Caso contrário, terá que curtir a terceira idade vendendo água no sinal ou pão caseiro para complementar a aposentadoria miserável.
Tenho essa última reflexão enquanto escolho, na prateleira da farmácia, uma tinta para esconder os fios brancos da minha cabeça. O rótulo da tintura me humilha: Castanho 4.0 “Morena Sensual”, Castanho 4.1 “Simplesmente Morena”, Castanho 4.2 “Morena Radiante”. Qual delas será que combina mais comigo?

Rafa Pires de Mello
Rafa Pires de Mello
Rafa Pires de Mello foi membro do jornal Parágrafo2 por 10 anos, publicou três livros pela editora Equipe Bugio. Nas madrugadas toca e canta com os perdidos e perdidas.

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