Existem aqueles que despertam todas as manhãs com uma missão nobre: debilitar não só universidades, mas tudo que represente ciência e conhecimento. Não porque falhem, mas porque cumprem o papel essencial de cultivar reflexão, dúvida e o saudável desconforto do pensamento autônomo. Para certos setores politicamente intolerantes, altamente incomodados com o pensamento livre, isso é o mesmo que acender uma tocha no palácio da insipidez e do conformismo.
No Brasil, o roteiro é tão manjado que parece um espetáculo repetido: atemorizar professores, espalhar histórias mirabolantes sobre “programação mental” e demonizar a ciência e a cultura como se fossem inimigas públicas. No exterior, o cenário segue a mesma peça. Harvard, essa fortaleza erudita, virou alvo de políticos que consideram quase criminoso formar críticos que não seguem o guião autoritário. Sob Trump vimos perseguições e tentativas óbvias de moldar uma narrativa amansada e conveniente.
Essa guerra contra o conhecimento não é só política. Muitos rejeitam verdades não por ignorância, mas por comodidade intelectual e apego confortável às próprias convicções, mesmo que isso exija ignorar a realidade. A dissonância cognitiva, tema brilhantemente trabalhado por Elliot Aronson, funciona como escudo contra o desconforto do autoquestionamento. Negar fatos requer muito menos esforço do que admitir que estava errado.
A farsa teatral é tão poética quanto cruel: clamam por liberdade de expressão, desde que seja um coro uníssono ecoando suas verdades ensaiadas. Pensar diferente vira ameaça e vira motivo para caça às bruxas. O verdadeiro “ato quase criminoso” do conhecimento é simplesmente ensinar a escapar do encanto ingênuo.
Para esses setores, acalmar com suavidade autoritária o conhecimento é o método mais elegante para manter a ordem do pensamento único. Pregam liberdade, desde que sua voz seja a única que alguém possa ouvir. A ignorância confortável se disfarça em tom pomposo de defesa.
Defender ciência, cultura e educação não é apenas proteger instituições, é salvaguardar nossa liberdade.