Por Marcelo Carvalho-Bastos
Não tenho dúvidas: já estamos vivendo a Terceira Guerra Mundial. Ela não começou com uma declaração formal, nem com tanques cruzando fronteiras em massa, mas com conflitos simultâneos, interconectados, travados por procuração — como peças sendo movidas silenciosamente no tabuleiro da geopolítica global.
A guerra na Ucrânia contra a Rússia, Israel versus Hamas, o atual confronto com o Irã, os conflitos envolvendo os Houthis no Iêmen, grupos armados na Síria e milícias no Iraque, e o avanço contínuo da OTAN rumo as fronteiras russas: tudo isso parece parte de um mesmo processo. São peças diferentes, mas jogadas no mesmo jogo.
Tanto Netanyahu quanto Zelensky funcionam como extensões da política externa americana — não como líderes plenamente autônomos, mas como figuras alinhadas a interesses estratégicos dos EUA em suas respectivas regiões. O objetivo da guerra contra a Rússia parece já ter sido alcançado: duas novas bases da OTAN — leia-se, dos EUA — nas fronteiras russas e uma terceira, mais distante, no Norte da Mauritânia. Agora, com os objetivos militares assegurados, Trump passa a tratar os recursos naturais da Ucrânia — em especial os minérios raros — como forma de “pagamento” pelas armas fornecidas. Zelensky, assim, vai sendo descartado.
A recente visita de Trump as nações árabes certamente não foi um simples passeio. Ainda não está claro qual o papel que esses países desempenharão nesse xadrez. Seriam alianças para garantir acesso a recursos? Pressão para neutralizar o Irã? Ou conversas para redesenhar rotas comerciais e energéticas?
Até mesmo o “presente” do Catar a Trump — um luxuoso Boeing 747‑8, chamado de “novo Air Force One” — carrega um significado que vai além da diplomacia: é gesto simbólico, instrumento de barganha e projeção de prestígio no centro do jogo geopolítico.
A lógica dos conflitos também permanece a mesma. Vocês se lembram do falso pretexto das “armas de destruição em massa” no Iraque? Agora vejam o novo argumento: a “possibilidade de fabricação de armas nucleares” usada para justificar o ataque ao Irã. Se antes a guerra se escondia sob pretextos de defesa, agora o movimento é claro, direto — sem máscaras. Este ataque é, sim, uma declaração explícita de guerra.
Não acredito que, se alguma das grandes potências decidir por um ataque nuclear, vá esperar pela aquiescência das demais. Em tempos de sobrevivência e dominação, o consenso costuma ser a segunda vítima — logo depois da verdade.
E no dia em que houver uma guerra nuclear, essa será a última guerra.
Marcelo Carvalho-Bastos
*Documentarista, roteirista e engenheiro químico. Pesquisa temas ligados a ética, poder e sistemas sociais.*
No Tabuleiro da Guerra: Estamos Já na Terceira Guerra Mundial?
