Uma reflexão sobre os ciclos da vida, o custo do tempo e a busca pelo verdadeiro significado em uma sociedade de repetições.
Hoje, revisitando minhas memórias, lembrei-me de uma época em que me via imersa em diversos conteúdos filosóficos, tentando encontrar soluções para o que ainda resiste e buscando uma verdade absoluta, que hoje sei ser utópica. Não deixando de citar o meu querido Belchior:
“Que, apesar de termos feito
Tudo, tudo, tudo, tudo, tudo, tudo que fizemos,
Ainda somos os mesmos e vivemos
Como os nossos pais.”
A letra de Belchior ecoa em minha mente enquanto reflito sobre o ciclo das escolhas e das repetições da vida. Nela vejo um retrato de como, apesar de todas as tentativas de mudança, muitas vezes nos encontramos em uma eterna reprodução. Essa constatação, que se desenrola na canção, reflete-se diretamente na minha percepção atual: o esforço incessante por algo que, no fim, parece ser apenas uma nova versão do que já vivemos, sem uma grande transformação. E, assim como Belchior canta, talvez sejamos apenas os mesmos, como nossos pais, em busca de respostas que já conhecemos, mas das quais não conseguimos escapar.
Nos barulhos incessantes do que chamamos de “progresso” e no tilintar das moedas que encantam a alma dos homens, permitam-me uma breve reflexão sobre a máxima do senhor Mujica, tão simples quanto profunda: “Quando você compra algo, você não paga com dinheiro, paga com o tempo de sua vida que gastou para ganhar esse dinheiro.” Eis aí uma verdade pungente, que muitas vezes passa despercebida, escondida nas dobras do cotidiano.
Imaginem, caros colegas, uma alma jovem, cheia de sonhos, que, ao erguer a cabeça em direção às estrelas, se vê, no entanto, aprisionada por grades invisíveis. Grades essas que não se forjam em ferro, mas em contratos, dívidas, horas intermináveis de trabalho e falsas promessas de felicidade a preço de mercado. Que ironia cruel: o preço da liberdade não se mede pelo que possuímos, mas pelo que perdemos ao adquiri-la.
Tomando pílulas dessa reflexão, posso afirmar que a vida, essa senhora imprevisível, frequentemente sorri ao nos vender ilusões. Compramos um imóvel para chamar de “lar”, mas, ao fim, somos possuídos por ele. Troca-se o melhor da juventude em nome de objetos e bens, mas, ao olhar para trás, o que resta é a vida que escorre entre os dedos, tal qual areia de uma velha ampulheta que nunca para.
Há também aqueles que, em sua insaciável vaidade, acumulam mais do que o necessário apenas para se deparar com a dura realidade de que riquezas não compram tempo — e tampouco significado. A diferença, diria o senhor Pepe Mujica, é que, durante a vida, só se gasta, e o tempo gasto em vida, saúde e juventude, isso sim, é inexorável.
Permitam-me, pois, concluir com um conselho: cuidemos das nossas horas como se fossem moedas extraordinárias… divinas… das quais a humanidade jamais terá o troco! Pois, ao contrário dos bens que se acumulam e, com o passar dos anos, se transformam em poeira e vão ao esquecimento, o tempo, uma vez gasto, não conhece restituição.
Entre o nada e o tudo, Ludmyla.