João chegou no hospital em uma maca e os médicos correram para a sala de cirurgia; ele tinha uma inflamação no apêndice. Sendo assim, a enfermeira lhe deu uma injeção forte e com gosto perto de seu terceiro olho. No entanto, ela havia cometido um grave erro: confundiu a anestesia com outra medicação. Embora João tenha desmaiado de medo, depois da cirurgia o efeito da injeção não havia passado.
Após ver o paciente acordado, um enfermeiro entrou na sala para vê-lo.
— Você acordou! É uma sorte que você percebeu, estava a beira de uma infecção generalizada. Como se sente?
— Não muito bem. Minha barriga dói, estou suando frio e minha boca está amarga.
— Ah, isso é bem comum. — o enfermeiro olhou para o armário de medicamentos no canto da sala oposta e imaginou que droga poderia ser tão pesada a ponto de desabilitar um homem daquela forma — Eu volto já já com algumas medicações.
— Ei, eu também consigo sentir isso! — disse João — Esse seu olhar frio! Vejo até os cristaizinhos de gelo e essas suas pálpebras imundas lançando um vento ao farfalhar!
— Acalme-se, eu já volto! — disse o enfermeiro, sem ceder ao calor da emoção. Dessa forma, saiu dali num pulo, e foi direto a sala do cirurgião para reportar a situação. Quando estava prestes a bater na sala, ouviu uma conversa lá dentro. Portanto, colocou uma orelha contra a porta e ouviu uma voz quente debatendo com o cirurgião.
— Desculpe-me meu bem, eu juro que fico mais esperta daqui para frente.
— É bom mesmo. Metade desse hospital só trabalha dependente do seu trabalho. E você ainda perde uma seringa? Agora vá. — respondeu o cirurgião
De lá saiu a enfermeira, que estava usando perfume de um cheiro doce. O enfermeiro, então, entrou. O cirurgião, ao ver que alguém entrava, guardou na gaveta o que parecia ser uma seringa. Apertou a mão do enfermeiro, o qual percebeu que ele estava quente e suado. Após isso, o enfermeiro disse:
— O paciente João, que você operou hoje mais cedo, está acordado e parece estar se recuperando. No entanto, ele me relatou alguns incômodos anormais, como dores no estômago, um gosto amargo e suor excessivo, o que me pareceu uma confusão de sua parte. Além disso, tudo me parece mais estranho pois ele estava também bastante eloquente e me xingou com muita energia. Ele não deveria estar sobre alto efeito da anestesia a esse ponto do campeonato?
— Oh, sim. Seus sentidos deveriam estar todos muito reclusos, ou seja, os olhos deveriam estar petrificados, as papilas gustativas cegas, a pele num amargor completo…
— Doutor, eu simplesmente não estou entendendo esse seu linguajar. Será que podemos ser mais técnicos? — o enfermeiro interrompeu
— Eu preciso ver o paciente para entender. Funciono melhor se puder sentir o que está se passando.
Assim, o cirurgião e o enfermeiro foram até a sala de João. Imediatamente, o cirurgião começou a sentir um cheiro ensurdecedor. Quando percebeu que ele vinha de João, soltou um grito espinhoso:
— Rápido, precisamos transferi-lo para longe daqui! Não temos medicação suficiente para mais um!
Logo, os médicos correram para pôr João numa maca e levá-lo a uma ambulância. Porém, durante toda a correria, o cirurgião deixou cair uma seringa. Então, o enfermeiro pegou-a para analisá-la. Era diferente das outras: tinha uma coloração roxa e o rótulo era estampado porcamente com um arco-íris. O rótulo gritava em letras pretas: Sinestesia, em falta.