Fui invadido por uma força invisível. Sentia-a em todas as regiões do meu corpo. Emagreci. Deixei de aparar a barba e cortar as unhas. Estava acorrentado e triste. Queria ficar imóvel como um feto. Pela manhã, com um esforço sobrenatural dirigia-me a banca de jornais. Comprava todos que anunciavam vagas para empregos.
Acho que estava ficando cego – não encontrava nenhuma. Nenhuma vaga no horizonte. Semanas após semanas – meses após meses.
Pensei em vender meus rins para pagar as contas. Veio a razão: isto é ilegal. Se fosse possível, eu teria que participar de uma concorrência.
Meus diplomas poderiam ser vendidos para o antiquário – tinham a cor de velhos papiros.
Era a certeza que eu tinha envelhecido e não percebera.
O chocolate quente deixou de ter o mesmo sabor.
Os banhos de mar ficaram na lembrança. E nem o sol deixava meu espírito irradiante.
Onde andará a lua? Que iluminava as flores, antes lindas do meu jardim?
Acompanhava o dia a dia do meu filho – ele feliz e cheio de sonhos. Queria explicar pra ele o que estava acontecendo – mas o que estava acontecendo?
Dia após dia fui emudecendo, mesmo sem tirar a tradicional armadura – paletó e gravata.
De alguma forma, sentia-me cada vez mais rejeitado – mais precisamente, desconectado!
De porta em porta procurei os amigos – eles estavam ocupados…
O estômago roncava vez ou outra – enganava-o com bananas e cachorro-quente.
Minhas roupas amassadas como maracujá maduro, enrugado, assim como eu.
Meu espírito, antes guerreiro indomável, agora queria voltar para sua origem. Um sonho em busca de carinho e afeto. Mas, minha casa desaparecera. Perdi a noção do tempo – perdi a agenda do meu coração.
Surgiu um álibi para minha melancólica tristeza, seu nome – desemprego…
Autor:
Jaeder Wiler