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domingo, 21 de abril de 2024

A fome

Meu corpo está sendo banhado pelo astro rei desta galáxia.

Seus raios luminosos lembram as maiores riquezas do homem – ouro e prata.

Sua beleza é indiscutível – sua energia indispensável.

Vejo-o desde que aqui cheguei – pena que para continuar sobre sua guarda,

temos que nos manter inteiros – corpo são, mente sã!

Por várias estações cultuei essa grande majestade.

Mas agora estou partindo – não sei pra onde.

Sei apenas que não queria esta viagem.

Há um vazio abaixo do meu peito que me consome.

Parece que as paredes do meu estomago devoram-se umas às outras.

Há uma mistura de nada com vazio. Por vezes peguei algumas coisas no lixo.

E algumas sobras de pessoas caridosas. Mas não foi o suficiente.

Meu corpo animal selvagem não me perdoou. Continuou a exigir o que lhe é de direito:

Comida!

Mas, meu espírito grita em meu interior que não sou selvagem:

Portanto, não posso matar!

Não posso roubar!

Sinto minhas tripas, num ato raivoso, sendo apertadas umas nas outras, como se fossem

um pano de chão sendo torcido para a saída da água.

Estou definhando; junto vem à tristeza e o esquecimento.

Perdi toda a minha identidade – onde nasci, lembranças dos meus pais, esposa, filhos. Talvez eu nem os tenha tido…

O que fiz para perder o brilho do sol é de minha única responsabilidade.

A fome foi aumentando até o momento que perdi a noção do meu corpo – de minhas necessidades primárias.

Acho que os danos são irreparáveis – todos os meus sistemas estão debilitados.

Os tecidos neurológicos e outros secundários estão em guerra: comendo uns aos outros.

Minha última esperança é que sejamos energia indestrutível, assim quem sabe – quando toda a carcaça se for, minha viagem será leve e suave, Como uma brisa que sopra em nossa alma ao entardecer na beira do mar…

Autor:

Jaeder Wiler

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