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domingo, 17 de novembro de 2024

Como o livro “Sobre a liberdade” do filósofo liberal John Stuart Mill reflete na Invasão do Iraque em 2003?

O liberalismo surge como uma filosofia oposta ao realismo, enquanto a teoria anterior prega o individualismo e a segurança, o liberal acredita que só temos sucesso quando trabalhamos em grupo. Por isso, em relações internacionais o liberalismo é baseado na integração e cooperação de Estados, segundo esta, é necessário a dependência entre estados para o equilíbrio global. Como principal figura temos Locke e Kant, teóricos que desenvolveram a ideia liberalista e responsáveis pela maior parte dos conceitos utilizados atualmente, por isso é importante separar o liberalismo econômico do liberalismo filosófico, apesar de terem a mesma fonte de estudos, levam a direções paralelas.

Nesta visão é necessário pontuar as duas principais características desta ideologia, são elas: a liberdade de expressão e direitos humanos e a separação do Estado e Religião. Kant deixa claro em suas obras que o objeto e sua função deixa de ser o foco, dando ao homem sujeito a função de nomear e atribuir significado à “coisa”.

No livro “Sobre a liberdade” do filósofo britânico John Stuart Mill, é introduzido “o princípio do dano” que diz que “ninguém deve ser impedido a força de agir da maneira que ele escolher, desde que seus atos não sejam invasivos aos atos livres de outros”, ou seja, segundo ele é legítimo interferir contra a vontade das pessoas caso estejamos a lidar com crianças, pessoas que não estejam em plena posse das faculdades mentais, ou em sociedades bárbaras, caso seja necessário impor a realização de deveres sociais, defender o país em caso de ataque ou caso o indivíduo tivesse a noção de algum fato que o faria agir de outro modo.

A filosofia liberal de John Stuart Mill pode ser aplicada à realidade da “Guerra ao terrorismo” no contexto da Invasão do Iraque pelos EUA em 2003. Os Estados Unidos após os ataques terroristas de 11 de setembro de 2001, começaram a adotar uma posição agressiva em relação a países do Oriente Médio, como o Afeganistão e o Iraque. As justificativas utilizadas para a invasão iraquiana foram que o ditador Saddam Hussein possuía ligações com grupos terroristas e armazenava armas de destruição em massa no território iraquiano, portanto eles não haviam provas concretas dessas afirmações.

O Iraque pode ser considerado uma “sociedade bárbara”, segundo Mill, afinal eles viviam em um regime ditatorial de Saddam Hussein, que foi responsável pela invasão do Irã e do Kuwait, e por ter violado diversas vezes os direitos humanos, como os massacres da população curda e dos muçulmanos xiitas. Saddam também é responsável por possuir um sistema violento de prisões e torturas, e ter utilizado armas químicas contra seu próprio povo e o povo curdo na guerra Irã-Iraque (1980-1988), além do abuso de poder e corrupção se beneficiando de recursos iraquianos enquanto grande parte da população vivia na pobreza.

Os EUA, segundo a filosofia de Mill, intervieram em um regime que estava invadindo os atos livres de outros, afinal, na teoria eles queriam mudar o regime violento do Iraque, buscando promover a democracia e a liberdade com a remoção de Saddam Hussein do poder. Portanto, na prática foi diferente, os Estados Unidos também possuíam objetivos econômicos envolvidos, como o acesso ao petróleo iraquiano, pois seria estratégico controlar o acesso a reservas de petróleo para garantir o suprimento e influenciar os preços no mercado global. Outro fator foi a influência geopolítica na região do Oriente Médio para proteger os interesses políticos e econômicos dos EUA que buscavam influenciar o equilíbrio de poder na região.

O resultado da “Guerra ao Terror” foi o saldo de aproximadamente 4,5 milhões de mortes, incluindo civis e militares em diversos países, enquanto o atentado de 11 de Setembro de 2001 causou a morte de quase 3 mil pessoas. A Guerra do Iraque causou uma ocupação prolongada dos Estados Unidos em território iraquiano, que gerou uma grande instabilidade política, o país entrou em guerra civil, o que levou a um vácuo de poder que existe até os dias atuais. Essa instabilidade criou condições para o surgimento do Estado Islâmico (ISIS), um grupo extremista que estabeleceu seu califado e reinado de terror, ao contrário das alegações estadunidenses, o Iraque não possuia grupos terroristas antes da invasão em 2003. Esse tema gera diversas contradições e reflexões em relação ao imperialismo estadunidense que envolveu a exploração e abuso de nações mais fracas, na maioria das vezes, justificadas com a promoção da democracia e liberdade, ou seja, o uso equivocado da teoria liberal de Mill.

Em suma, o liberalismo e o capitalismo estão diretamente relacionados e interligados, desempenhando papeis significativos na história econômica e política. Embora o liberalismo e o capitalismo frequentemente andem de mãos dadas, é importante notar que eles não são idênticos. Quando analisados a partir de uma visão política, a urgência de intervenção externa e influência adotada por países hegemônicos, destacando principalmente os EUA, vai ao encontro da filosofia liberalista de controle do poder. Enquanto pode-se estipular um grau de importância e uma regra moral imposta internacionalmente a moldagem da realidade e ações torna-se muito mais palpável e acessível. Por isso, precisamos de cientistas e pesquisadores políticos com visões diferentes na atuação global, para que não haja uma hegemonia de controle de massa.

Referências:

Livro: Sobre a liberdade, de John Stuart Mill Documentário: Why We Fight (2005)

Documentário: A evolução da maldade – Saddam Hussein

https://www.prensalatina.com.br/2023/05/16/a-guerra-ao-terrorismo-dos-eua-matou-mais-de-quatro-milhoes/

Autora:

Felicia Naomi di Francesco

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