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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Walküren – As Três Marias

Capítulo Quarenta e um

– Foi Anhangá!

Era Torquato, conversando com Juvêncio, expondo suas teorias. Segundo ele, Juvêncio teria avistado o Jurupari, que era a montaria de Anhangá, que estava caminhando pelo mundo para saciar sua sede. E este só retornaria ao recanto do além quando estivesse saciado. Bem, isso de certa forma batia com o que a professora lhe havia dito… que, de tempos em tempos, mortes misteriosas ocorriam naquela região. Mas… que diabos seria esse “Anhangá”?  Tudo bem, ele era um diabo, não foi exatamente sobre isso que Juvêncio estava se perguntando… uma vez que o… Jurupari… (aquilo era um lagarto gigante…) era a montaria e também a arma para colher a vítima, o tal Anhangá teria que aparência? Ele era hematófago, isso era certo… pois as vítimas eram todas encontradas exangues… mas qual seria a aparência desse bicho?

Bem, Juvêncio resolveu que teria que bater a pista novamente, não só para tentar encontrar as três moças desaparecidas como também descobrir alguma coisa sobre o lagarto… o Jurupari. O Delegado Santana liberou seu ajudante para auxiliá-lo na busca.

Caminhavam já a um bom par de horas… o sol estava bem alto no céu. Aproximavam-se do pé da serra, onde Juvêncio perdera a pista tanto das moças quanto da fera… bem, agora seria uma boa hora para encontrar ambas… afinal Torquato era bom em descobrir pistas, e Juvêncio não ficava atrás…

Antes de apearam de suas montarias, Juvêncio conferiu mais uma vez as cargas de seus revólveres e rifle, e pediu para que seu parceiro fizesse o mesmo. Ambos municiaram suas armas com balas de prata. E trouxeram munição reserva feita do mesmo material.

Juvêncio notou que os animais das moças continuavam no mesmo lugar. Isso significava que estariam em algum lugar por ali. Os dois companheiros tiraram os arreios dos animais, para esses ficarem a vontade.  Logo os cavalos se misturaram com os outros. Tanto Juvêncio quanto Torquato procuraram um local seguro para deixarem suas coisas, abasteceram-se de munição além daquela que estava no cinturão e começaram a andar. Caminhavam com cautela, perscrutando todo canto a procura de qualquer indício que assinalasse a passagem de quem quer que fosse… até, que finalmente, Torquato encontrou a entrada da caverna por onde as garotas embrenharam.

Juvêncio ficou surpreso com a descoberta, pois havia passado bem próximo, sem a perceber. De qualquer forma, respirou aliviado, já que ali dentro encontraram sinais da passagem das moças. Improvisaram uma tocha e começaram a seguir a pista, que os conduzia cada vez mais para o interior da montanha. No começo o local era bem úmido, mas conforme iam avançando tudo era mais seco, mais quente. Finalmente chegaram em um local que, se fosse a céu aberto, seria um platô. Era um lugar que contava com uma iluminação bem próxima à natural…

Nesse local os sinais de passagem das moças estavam bem claros, e os dois parceiros não tiveram dificuldades em continuar seguindo a pista.

Quando começaram a descida é que os problemas apareceram… suas tochas haviam sido consumidas por inteiro…nada mais restava das mesmas… além disso o local começou a ficar numa penumbra… era como se a noite estivesse chegando. E, para melhorar, à sua frente várias entradas de túneis… e o chão, que até então mostrava claramente a passagem das garotas, tornava-se duro, não deixando nenhuma marca no solo que permitisse identificar qual rumo elas tomaram…

– É o Anhangá… ou então o Saci… um dos dois está tentado fazer com que a gente se perca, seu Juvêncio…

– Calma, Torquato… nós vamos encontrar o caminho certo…

– De que jeito? Não temos mais nenhuma tocha… e nem sabemos em qual caverna elas entraram…

– Não se preocupe… nós vamos encontrar o caminho certo…

Torquato olhou para seu parceiro com desconfiança… mas como não tinha muito o que fazer, achou melhor ficar quieto. Afinal, pensar no pior só faz com que o pior aconteça… Bem, seu estômago estava começando a reclamar… isso significava que já era bem tarde, e teriam que comer alguma coisa… ainda bem que em seu bornal tinha um pedaço de carne seca… Juvêncio continuava a perscrutar o solo com toda atenção. Enfim, anunciou para seu parceiro…

– Elas seguiram por ali….

Torquato não ficou muito animado com a possibilidade de entrar naquela escuridão. Mas sabia que era o único jeito. Porém, argumentou… 

– Que tal a gente comer alguma coisa, primeiro?

– Você sabe que não tem como assar a carne…

–  Não tem problema… com a fome que estou eu a comeria até crua…

Aproveitaram o resto de claridade que havia na caverna e fizeram sua refeição fria. Em seguida entraram no túnel identificado por Juvêncio.  Depois de alguns metros, o breu completo. Começaram a caminhar rente à parede, com toda cautela, pois não conseguiam enxergar nada à sua frente….

– Tem certeza de que elas vieram por aqui, delegado?

– Era o que indicavam os sinais…..

– Mas como é que alguém consegue andar nessa escuridão?

– Elas conseguiram… nós também conseguiremos…

– Isso se a gente não cair em algum precipício…

Juvêncio também já havia pensado nessa possibilidade, mas preferia não se preocupar com isso, até que viesse realmente a ocorrer…. 

Depois de caminhar tateando pela escuridão, finalmente vislumbraram uma réstia de luz ao longe… menos mal, pensou Juvêncio… pelo menos conseguiriam ver por onde caminhavam… e poderia conferir se realmente estavam no caminho certo…

Finalmente, a luz… e o chão macio guardava a marca das botas das três garotas. Sim, elas haviam passado por ali, sem sombra de dúvidas… mas para onde estavam indo? Pelos cálculos de Juvêncio, já haviam caminhado uma distância equivalente a pelo menos uma volta completa pela cidade, mas sempre em linha reta e para baixo… até onde iriam descer?

Juvêncio reparou que havia vegetação à sua volta, e a iluminação do lugar parecia a mesma que havia nos campos por onde eles vieram… se ele não soubesse que estavam debaixo da terra, poderia jurar que estava caminhando pelas campinas às quais estava acostumado…  Por um momento sentiu um arrepio, como se estivessem avisando para ele voltar por onde veio. Balançou a cabeça, para espantar os maus pensamentos e tratou de ficar em silencio. Sabia que, se externasse a sensação que tivera, seu parceiro ficaria simplesmente apavorado. E não era hora para isso…

Juvêncio olhou de lado, para Torquato, e notou que o caboclo estava suando frio. Estava tenso. O rapaz segurava firme o patuá que seu pajé lhe havia dado. Juvêncio nada falou. Sabia que não precisava de muito para que Torquato entrasse em pânico…Juvêncio resolveu quebrar o silencio…

– Tem ideia de onde estamos, Torquato?

– Sim, delegado… estamos nos domínios de Anhangá…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

2 COMENTÁRIOS

    • Muito obrigada pelo elogio. Já estamos entrando na reta final da novela. Espero que continue nos prestigiando na próxima novela, que se iniciará em novembro. O título? “Walküren – O Jardim do Infinito”….

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