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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Walküren – As Três Marias

Capítulo Trinta e Oito

Cecília caminhava lenta, cuidadosamente. Um passo por vez, com cuidado para não fazer barulho. Pois a fera estava próxima. Dava para sentir sua presença. O que ela estava fazendo naquele lugar? Não tinha a menor ideia. Sabia que deveria seguir em frente… até o local em que a caverna estava oculta pelas folhagens…engraçado! Todos procuravam aquele local… mas poucos sabiam sua localização…

Finalmente ela chegou ao seu destino. O acesso estava bem escondido, atrás da cachoeira. A garota levou algum tempo até encontra-la. E quando finalmente conseguiu acessar o caminho, ficando invisível para quem quer que passasse ao largo, ela viu o… monstro… se aproximar. Como é que tinham se referido a ele, mesmo? Ah, sim… “O Jurupari”… realmente, era uma coisa que ela nunca tinha visto antes. Era um animal, sem dúvidas. Parecia um lagarto gigante… deveria ter um metro e oitenta, dois de altura…. andava ereto, como um homem. Cauda comprida, braços curtos… mas as garras… meu Deus, as garras… 

Depois de alguns segundos paralisada, Cecília tratou de espantar o medo e seguiu em frente, cortando a escuridão com passos rápidos e firmes. Não demorou muito e avistou suas parceiras….

– Izabel, até que enfim…

– A Graça já estava dizendo que você tinha se perdido…

Cecilia estranhou… por que aquelas duas estavam chamando-a de Izabel? E quem eram elas? Mas, apesar do estranhamento, seguiu em sua direção. Não entendia o porquê, mas sabia que deveria acompanhá-las…

– Rosa, nossa amiga está muito quieta, não acha?

– Talvez ela tenha cruzado o caminho do Jurupari….

Rosa voltou seu olhar, um olhar de interrogação para Cecília. Esta, de pronto, respondeu….

– Sim, ele me perseguiu…. por muito pouco não me pegou…

– Te viu entrando na caverna?

– Não… levou uns dois minutos entre minha fuga para o esconderijo e a aparição do monstro…

– Ainda bem…sabia que se não fosse a água, a gente não teria como escapar dele?

– Não, eu não sabia. Por quê?

– E quem vai saber? O que sei é que a fera não atravessa água corrente….

– Estranho, não acham?

– Estranho, com certeza, é… mas porque você pediu para que nos encontrássemos aqui, Bel?….

– Primeiro, porque… sabe que eu realmente não sei?

– Como assim…?

– Ela está brincando com a gente, Graça…

– A Bel sempre gostou de brincar… mas…

– Gente, porque vocês insistem em me chamar de “Bel”, “Izabel”…? Eu não sou quem vocês estão pensando, e também não me chamo “Izabel”…

 As duas moças caíram na gargalhada… mesmo na situação crítica em que estavam, sua parceira ainda tinha forças para brincar? Bom sinal….

– Bel, deixa de firula, menina… a gente te chama do que você quiser, está bem? Mas agora precisamos saber porque estamos aqui…

Cecilia continuava sem entender nada. Primeiro porque parecia estar em um cenário de filme de bangue bangue. As duas moças com as quais se encontrou pareciam aquelas pistoleiras de filme da sessão da tarde… calça de brim, blusa de algodão, um lenço no pescoço, chapéu… um cinturão repleto de munição e cada uma portando dois revólveres, bem baixos, à moda dos atiradores profissionais…

Havia um olho d’água no local em que se encontravam e Cecília resolveu lavar o rosto, para tirar o suor. Quando fitou seu rosto no espelho d’água, não conseguiu acreditar no que via… não era seu rosto, com certeza. O que estava acontecendo? O susto foi tão grande que a moça sentiu-se desfalecer…

– E essa, agora… que hora essa menina resolve dormir…

– Graça, deixa de graça… não viu que a Bel desmaiou?

– E não é o que estou falando? Com tantos momentos melhores para isso, ela resolve desmaiar justo agora….

– Vamos tentar despertá-la…

E as duas começaram a passar seus lenços molhados no rosto e nos pulsos da moça, tentando fazê-la recobrar os sentidos. Finalmente ela começou a se recuperar…

– Onde… onde estamos?

– Bel, de novo, não!

– Você sabe onde estamos… escondidas em uma caverna, fugindo de um monstro…

– E tudo porque você resolveu que a gente tinha que vir para cá…

– Fazer o que, eu não sei…

– Meninas, sério… não faço a menor ideia sobre onde estamos…

– Onde você queria nos encontrar?

– No recanto da sereia… fui bem clara quanto a isso…

– É onde estamos… e quase fomos apanhadas por um monstro… um lagartão gigante…

– O Jurupari… o bicho é rápido como um raio…

– Se ele é tão rápido, como é que escapamos?

– Boa pergunta…

– Que não sabemos responder. Em todo caso, não temos como sair daqui…

Izabel (sim, agora era a Izabel que estava presente) ficou alguns instantes pensativa. Durante algum tempo ela permaneceu desligada de tudo que ocorria ao seu redor, e não sabia porque isso aconteceu. Agora ela estava de volta, com todas as suas faculdades mentais em ordem… bem, se estavam na caverna do recanto da sereia, só havia um caminho a seguir. Em frente, em direção ao centro… ou o que parecia o centro… daquele lugar. Ao menos era essa a instrução que recebera no bilhete que encontrara no pacote que seu pai lhe entregara no dia em que partiu.

Depois de tomar fôlego (ela estava cansada da fuga do monstro, embora não se lembrasse de ter fugido do mesmo) chamou suas parceiras e começaram a caminhada em direção ao desconhecido.  Não entendia muito bem o que estava fazendo, mas sabia que tinha que seguir. E assim foi guiando suas companheiras pelo labirinto que se abria a sua frente.

Caminharam um bom par de horas, ora no escuro total, ora em uma claridão que pareciam estar andando pela pradaria em um dia de verão. Então chegaram em um local que parecia ser o fim da linha para elas… um pântano, habitado por ferozes jacarés…  elas tinham que atravessá-lo para chegar ao seu destino… mas não tinham a menor ideia de como fazê-lo…

– Meninas, já estou cansada dessas lagartixas crescidas…

– Eu que o diga…

– Vem cá… a gente tem mesmo que atravessar isso aí?

– Não sei se vocês notaram… mas não temos como voltar por onde viemos… então, sim… temos que passar para o outro lado…

– Sim, mas… não tenho vontade de virar comida de jacaré…

– Eu também não… mas deve ter um jeito de atravessar isso…

Sim, mesmo que quisessem retornar ao ponto de partida isso não seria possível… dezenas de passagens se encontravam às suas costas e elas não tinham a menor ideia de qual seria o caminho correto… engraçado… para chegarem até ali, parecia que alguém as guiava pelas mãos. Agora, no entanto…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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