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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Walküren – As Três Marias

Capítulo Trinta e Sete

– Graça….

– O que foi, Bel?

– Eu estava pensando…

– Por que você não faz como a Rosa, e não pensa dormindo? Estou com sono…

– Deixa de ser chata…

– Não, é sério… já está tarde, a gente cavalgou o dia inteiro… estou simplesmente acabada!

– É que eu precisava te contar uma coisa importante….

– Conta amanhã… agora eu quero é dormir…

E falando isso, Graça virou-se para o outro lado e entregou-se aos braços de Morfeu… Izabel sentou-se na sua cama e ficou pensativa… estava se lembrando de alguma coisa, só não sabia o que era… mas sabia que era importante. E tinha a ver com a Graça. Com a Rosa, nem tanto… mas Graça fazia parte de sua lembrança… se ao menos soubesse o que era… pois as imagens começaram a aparecer, mas estava tudo envolto em uma névoa…

Izabel levantou-se e começou a caminhar pelo quarto, meio atribulada. Tinha algo que a incomodava… mas não conseguia lembrar o que seria. Era algo que o delegado havia falado. Mas o que? E por que de repente a imagem de seu pai lhe veio à mente? Que ligação poderiam ter? A insônia a incomodava. 

Apesar do adiantado da hora, Izabel resolveu dar uma volta pelo quarteirão. Saiu com todo o cuidado, para não acordar suas amigas. Tinha que pensar, tinha que entender o que a incomodava tanto. Se pelo menos soubesse do que se tratava… mas tinha certeza de que, se continuasse tentando, iria se lembrar…

A noite estava gostosa. Fresca. Bem diferente do dia, quando fez um calor insuportável. Izabel caminhava pensativa, às vezes olhando para o chão, às vezes apreciando as estrelas bordadas no firmamento… sim, ela sentiu-se um pouco mais tranquila durante a caminhada. Resolveu recostar-se à cerca que demarcava o perímetro das dependências da pensão, fechou os olhos e tentou ver alguma coisa entre as brumas que insistiam em impedi-la de entender o que se passava.

– Também perdeu o sono, senhorita?

Izabel levou um susto! Abriu os olhos e virou-se para a direção da voz… sim, era o delegado, que estava a poucos passos dela… fumava um cigarro e aparentemente, também tentava entender o que acontecia ao seu redor.

– Delegado… eu…

– Desculpe… eu não queria assusta-la…

– Oh, não me assustou… é que eu estava distraída.

– Entendo. Eu estou a dias quebrando a cabeça, e estava pensando…

– Como assim?

– Bem, eu até já estava dormindo… mas acabei acordando, o sono se foi… resolvi dar uma caminhada…

– Está com insônia…

– Como a senhorita, pelo visto…

– Já sou casada….

– Desculpe, senhora… é que eu pensei…

– Não se preocupe… senhora, senhorita… são apenas palavras que não querem dizer nada.

Juvêncio sorriu. A moça, além de bonita, era extremamente simpática. E gentil…

– Acho que a senhora estranhou quando eu disse que precisava da ajuda de vocês, não?

– A bem da verdade, sim… mas… não sei, não posso afirmar…

– O que foi? 

– O senhor não vai acreditar, mas eu e minhas parceiras viemos até aqui para fazer alguma coisa que não sabemos o que é… e quase posso afirmar que viemos em seu socorro…

– Como assim?

– Não sei… é uma coisa que meu pai falou, antes de partir….

– Ele faleceu? Meus pêsames…

– Não, não… eu acho que não morreu, não… na verdade, creio que está vivo e bem vivo…

– Mas, então…

– É que, um dia, antes de partir… bem, ele disse que o senhor iria me convocar. E que eu entenderia tudo na hora.

– Não entendi…

– Nem eu… estou tentando lembrar do que mais ele falou e…

De repente a visão de Izabel se clareou, e ela conseguiu entender a mensagem de seu pai. Não de tudo, mas lembrou-se de algo muito importante… ao menos para ela. 

– O senhor se lembra da noite daquela reunião… claro que se lembra. Afinal estava falando sobre ela…

– O que é que tem?

Izabel forçou um pouco a memória. Imagens foram se formando em seu subconsciente. De repente viu-se, mais as suas companheiras, na sala da delegacia, junto com seu pai, o delegado Juvêncio, um outro delegado, seu ajudante, um médico e uma mulher. Não entendeu muito bem o que estava ocorrendo. Mas percebeu que seu pai falou para a mulher ir embora, pois aparentemente ela teria alguma coisa importante para fazer em outro lugar…. Depois, ele examinou suas armas, e as de suas parceiras, também. Conversaram por mais ou menos uma hora, então todos saíram para fora. Raios e trovões cortavam a noite. O céu parecia endoidecido. Era como se o mundo estivesse para se acabar…

– Aconteceu alguma coisa muito importante naquela noite, não foi?

– Conseguimos resolver o mistério dos lobisomens e afins…

– Tinha lobisomens lá?!

– Nossa, você esqueceu de tudo, não é mesmo?

Izabel deu de ombros. Ela estava começando a lembrar-se de alguma coisa. Mas preferia lembrar-se das aventuras ao lado das duas amigas, em busca de um prêmio pela cabeça de malfeitores… O sono começou a bater, e Izabel achou melhor voltar a se recolher. Despediu-se de Juvêncio e voltou ao seu quarto. De repente lembrou-se do pacote que seu pai lhe dera em confiança. Com certeza, a chave de pelo menos um dos mistérios estava ali…

Juvêncio também se recolheu mais uma vez… o sono começara a chegar e o dia seguinte seria bem cheio. De certa forma, a conversa que tivera com Izabel deixou-o bem animado. Afinal, alguém lá em cima gostava dele. Pois enviara para auxilia-lo os três anjos da morte, que foi como a Deusa as chamara. Bem, isso queria dizer simplesmente que havia mais naquele angu do que ele poderia perceber. De qualquer forma, a visita a aldeia de Torquato já estava decidida. Quem sabe se o pajé poderia auxiliá-lo a recuperar as lembranças das moças? Poderia dar em nada, mas não era proibido tentar…. E assim, Juvêncio, embalado pela esperança e o cricrilar dos grilos acabou por adormecer como um bebe…

Desta vez, ao contrário da primeira, Juvêncio dormiu profundamente. Não houve cavalgadas de eras passadas. Sim, Juvêncio havia tirado um pequeno cochilo, onde seu amigo Juquinha ganhou uma disputa hípica com seu fiel ginete Saci… de repente acordou… e o sono simplesmente desapareceu… por isso resolveu dar uma volta pela noite, quando acabou se encontrando por acaso com Izabel… e, pelo visto foi um encontro proveitoso, pois aparentemente ela começou a se lembrar de alguma coisa…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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