A crônica “Os 64 caminhos” foi originalmente escrita por Luís Fernando Verissimo. A crônica apresenta uma ideia que poderia ser um romance, mas, comicamente, termina em pizza. Neste texto dou continuidade a essa história.
Um encanador se dirige a um prédio escuro. No apartamento n° 88 encontra-se seu cliente, afundado numa poltrona. O encanador entra e este senhor diz e não sabe o porquê. O encanador, quase intrigado, mas já habituado, se dedica ao serviço. De repente, o senhor chega por trás, vira o encanador e diz:
-Eu preciso que você me escute. Os sessenta e quatro caminhos são reais. Sessenta e quatro. Oito vezes oito. 64 são os ladrilhos num tabuleiro de xadrez. 64 é o número de trincas em um RNA. Jesus era o 64° na sucessão direta de Davi. 6 e 4 se referem ao massacre da Praça da Paz Celestial. Eu não tenho muito tempo e preciso que alguém faça isso por mim. Por isso vá a Turquia, Istanbul, Rua Caban 117. Repito: Turquia, Istanbul, Rua Caban 117.
Entretanto, o encanador sorriu casualmente e voltou a analisar a tubulação.
Depois de uma semana a notícia lhe chegou pelo jornal: Aquele senhor morrera. Fora assassinado brutalmente, sei lá o porquê. Então, encanador jogou o jornal no lixo, saiu andando e disse:
-Eu que não me meto numa dessas!
Mas mudou de ideia subtamente:
-Agora, subordinado a outro escritor, talvez eu deva me meter numa dessas.
Então, sob efeito de extrema insanidade largou tudo e foi em direção ao aeroporto. Comprou uma passagem para Istambul e, ao ser perguntado o nome, gelou. Que nome poderia o autor inventar? Ele, portanto, espera que seja algo relacionado a ser encanador e ao número 64. Disse:
-Mário.
-Senhor Mário, qual assento o senhor gostaria de ocupar?
-O 64.
-O 64 está ocupado. O 63 serve?
-Dá pro gasto.
Então o recém-Mário decolou, em razão de algumas coincidências oferecidas por homem senil e provavelmente por conta da crise da meia-idade. Está indo em uma jornada para conhecer a verdade do mundo. Mas enfrentará perigo, desilusões e descobrirá o maior inimigo dos autônomos: A burocracia.