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domingo, 17 de novembro de 2024

Madrugada marcante.

Chuva de verão, tragédias que mudam vidas.

Era uma madrugada estranha de 12 de Janeiro de 2011, chovia muito como na maioria das noites de verão, eu dormia e acordava diversas vezes preocupada. De repente recebo uma ligação da minha irmã dizendo que a casa de uma vizinha tinha desabado e perguntou se estava tudo bem, respondi que sim, mas que chovia bem forte. Chuva de verão é assim.

Fiquei preocupada com essa vizinha e o marido, pois eram idosos e eu os conhecia desde criança. Ela disse que estava tudo bem com eles, com os outros vizinhos e com nossa família também, daí desliguei o telefone e voltei a dormir, quer dizer dormir não foi bem o que consegui. Cochilei com medo de receber outro telefonema. Naquela época estava de férias de um trabalho e acordava mais tarde, era mais ou menos 11 horas da manhã e não tinha ligado a TV. Foi aí que minha mãe e irmã apareceram na minha casa dizendo que tinham acontecido vários deslizamentos. Liguei a TV e aí pude ter a noção do que estava acontecendo não só na minha cidade, mas em cidades vizinhas também.
Fiquei estarrecida, nunca tinha visto tamanha tragédia, da noite para o dia milhares de mortos (até hoje não se sabe o número exato) milhares de desabrigados e vários bairros destruídos.

A cidade se viu invadida por veículos de comunicação. A avalanche de lama havia carregado tudo sem distinguir áreas rurais e urbanas, ricos e pobres, crianças e adultos, idosos e animais.

O caos e o desespero tomaram conta de todos. Vergonhosamente tiveram aqueles que tentaram levar vantagem aumentando os preços dos alimentos e da água cobrando valores exorbitantes. Mas também felizmente uma onda de solidariedade surgiu e mesmo quem pouco tinha fez questão de ajudar, socorro esse vindo de toda a parte.

O ginásio virou abrigo, instituições organizaram mutirões, muitos de alguma forma estenderam a mão para alguém necessitado. Como qualquer data de uma tragédia, esta ficou marcada em nossa memória, podemos nos lembrar o que fizemos durante aquele dia que antecedeu a madrugada chuvosa. Todos temos uma história para contar. As chuvas sempre foram motivo de preocupação, mas a partir daquele dia 12 de Janeiro ao menor sinal de chuva forte o medo ressurge.

Muitas pessoas traumatizadas, muitos perderam familiares ou conhecidos. Em 2021 completaram 10 anos dessa que ficou conhecida como a maior tragédia climática do país. Pouca coisa mudou de lá para cá, algumas medidas preventivas foram instaladas, mas nada que pudesse nos salvar de outro caos. A cidade ainda guarda as marcas daquela madrugada e sem dúvida esse dia ficou marcado para sempre na história de Teresópolis. Uma triste história.

Shirlei Pinheiro

Shirlei Pinheiro
Shirlei Pinheiro
Nascida em Teresópolis é formada em Recursos Humanos e atualmente estuda Bacharelado em História, começou sua vida literária em 2016 escrevendo crônicas. Em 2020 criou o blog Paixão Crônica, em 2021 começou a participar de coletâneas nacionais e internacionais. Também em 2021 criou o grupo literário Escritores da Serra no Facebook. Produtora cultural e artista plástica é membro da Academia de Artes, Ciência e Letras do Brasil ocupando a cadeira de nº 734, também é membro da Academia Internacional Mulheres da Letras, ocupando a cadeira de nº 208. Publicou o livro Meus Escritos pela editora Uiclap.

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