Una grande manifestazione gastronomica e culturale a Bembibre, nel cuore della regione del Bierzo
Um grande festival gastronómico e cultural em Bembibre, o coração de El Bierzo
Espanha é muito dada a festivais gastronómicos e aos grandes recordes gastronómicos e de produtos, entre eles, o marisco, o queijo, o azeite, o alho, o polvo e os vinhos na sua diversidade, são alguns dos produtos que fazem a promoção das festas a que se dedicam. Quanto aos recordes, há também de tudo: o da maior morcela, da maior tortilha de batata, do maior prato de presunto ou de cecina (embutido de carne de gado vacum), da maior paella…e assim por diante. Mas se há uma festa original e de um produto único esse é o “Festival de Exaltación del Botillo” que se realiza em Bembibre, Bierzo de León, o qual reúne mais de 1.800 comensais à volta deste embutido único. Desde 2008 que é um festival reconhecido como de Interesse Turístico Nacional e que aspira a ter o título de Internacional.
Esta festa nasceu há meio século quando um grupo de amigos decidiu aproveitar a sua estadia em Bembibre por ocasião da La Salida del Santo, uma festa regional que se realiza a cada sete anos, para organizar uma refeição e saborear os mais típicos produto da vila, “O botillo? ? um produto de carne feito com pedaços do “desmanche” do porco, temperado e recheado numa tripa de porco que é defumada e semicurada?, e isto porque vários dos participantes não puderam comprá-lo nos seus locais de residência. Aquele calor do mês de julho e a comida ao ar livre debaixo do sol do meio-dia não foram as melhores companhias para o repasto que se degustou. Todos os presentes sabiam disso, mas, o ambiente e a companhia eram tão agradáveis que foi unanimemente decidido repetir a experiência, isso sim, evitando os inconvenientes.
Na seguinte edição que ocorreu em 1973, o boca a boca já tinha funcionado e o número de comensais aumentou, chegando às duas centenas que nessa ocasião se reuniram para jantar na zona interior do Dancing Club, espaço de moda no concelho. Aproveitando a reunião, um dos participantes, o advogado e escritor natural da Vila, Antonio Díaz Carro, foi convidado a dirigir algumas palavras aos presentes. Nesse momento nasceu a figura do Mantenedor, a partir desse ano o Festival do Botillo consolidou-se definitivamente. Sabendo todos que o embutido era o pretexto para se fazerem reuniões, pois trata-se de uma comida mais típica do inverno, a festa foi marcada definitivamente para o sábado anterior ao sábado de Carnaval.
Ao longo do tempo, além do Festival do Botillo, um festival gastronómico, também foi acolhida uma Semana Cultural na qual exposições, teatro, dança, música, literatura, cinema, conferências, colóquios, mesas redondas, concursos, são realizados. Também concursos baseados na gastronomia, como o concurso de tapas e pinchos de botillo, no qual participam 15 estabelecimentos de restauração para coroar o botillo como o ‘rei’ do pincho, masterclass de culinária com produtos de El Bierzo, corte e degustação de presunto, elaboração do pãozinho grávido, ?prenhe”…a última incorporação em 1999 foi a da Feira Agroalimentar da Vila de Bembibre, já consolidada como uma das principais atrações e elementos dinâmicos de Bembibre, aumentando a cada edição o número de expositores participantes quer de Castilla y León quer de outras comunidades como Astúrias, Galiza, Castilla La Mancha, Extremadura ou Andaluzia, numa aposta continuada pelo produto artesanal, primeiro de Berciano provincial e agora nacional, apoiado em marcas de qualidade de produto, DO e classificações IGP, com uma localização e desenvolvimento privilegiado no meio rural. Participam quinhentos expositores e não faltam produtos típicos de El Bierzo e León, como a maçã reineta, as peras conferência, os pimentos assados, as castanhas, as cerejas, a cecina, o alho francês e, claro, os vinhos, especialmente os elaborados com a uva tinta Mencía e entre as brancas, Doña Blanca e Godello. Durante os três dias que dura a feira, pode-se degustar de uma ementa popular por apenas 14 euros.
O Mantenedor, como em todos os atos que promovem a cultura, tem sido um elemento básico na divulgação do botillo, pois com os seus discursos e proclamações enriqueceu e enobreceu, cantando as suas excelências, não só o prato típico em si, como também os costumes, as idiossincrasias e todos os valores de El Bierzo em geral e o papel de Bembibre no seu contexto, contribuindo com a sua presença para dar maior destaque a este cultural evento gastronómico. Este papel único foi desempenhado nos últimos anos, entre outros, por Alfonso Ussía, Juan Vicente Herrera, Fernando Ónega, José María Aznar, Luis María Ansón, Carmen Calvo, Vicente del Bosque…e até José Luis Rodríguez Zapatero, que estudou e morou na região e que na sexta-feira, dia 10, inaugurará a Feira de Alimentos e Agricultura Vila de Bembibre. Este ano o Mantenedor é duplo, trata-se dos famosos chefs, os irmãos Torres, Sergio e Javier, que falarão sobre a sua longa experiência na cozinha e em particular, do botillo e das suas formas de prepará-lo. E a parte musical será protagonizada pelo cantor Víctor Manuel que mostrará uma parte do seu vasto repertório.
Uma longa história
Embora o botillo possa parecer um produto relativamente novo que, graças a iniciativas como a de Bembibre virou moda, na verdade é um dos embutidos mais antigos. Foram os celtas, há mais de 2.000 anos, que descobriram as magníficas características agrícolas das terras bércias, repletas de carvalhos, azinheiras e castanheiros, ideais para o desenvolvimento da suinocultura e quase imediatamente começaram a fazer o botillo como produto para consumir nos primeiros dias da matança. Mais tarde, com a integração de Bierzo no mundo romano, o botillo também não passou despercebido e começou como alimento para os escravos que os romanos exploravam trabalhando nas minas de ouro próximas, especialmente em Las Médulas, a pouco mais de 40 quilômetros de Bembibre.
Alguns séculos mais tarde, na Idade Média, os monges da abadia de Carracedo, alguns monges eremitas e a Ordem do Templo, conservaram e melhoraram a receita original, que os peregrinos do Caminho de Santiago levaram para o resto da região, chegando desta via para as vilas da Galiza e das Astúrias, tornando-se uma iguaria para abades, bispos e reis. Algum poeta inspirado chegou, inclusivamente, a dedicar-lhe alguns versos: ?Manjar sublime de mistério ancestral, que dá ao paladar um deleite sutil, tu és a primícia na mesa, com alegres eflúvios de incenso.”
Atualmente, é consumido durante todo o inverno, mas principalmente na época do Carnaval, como uma despedida festiva de Don Carnal e de boas-vindas a Dona Quaresma, onde os enchidos e derivados atingem o seu auge na gastronomia do norte de Espanha, para desfrutar dessas festas pagãs.
Apesar de ser elaborado de forma diferente, os seus ingredientes básicos são o entrecosto e o rabo de porco aos quais também se podem juntar, dependendo da zona onde é elaborado e do seu fabricante, outros componentes como língua, bochecha, pá e espinha dorsal, que são misturados com pimentão, sal, alho e outras especiarias naturais, e tudo é embutido numa tripa do estômago do porco ou mesmo até da bexiga, dependendo da zona, que por sua vez também foi previamente marinada. Aliás, é daí a origem do seu nome, que vem do termo latino botellus, tripa de porco. Depois segue-se o processo de defumar, passo fundamental que dá o sabor particular a todas os embutidos de El Bierzo. O defumar processa-se com o fumo que resulta da queima da lenha de carvalho ou de azinheira, durante pelo menos um dia. E a seguir procede-se a secagem que se faz durante dois dias em secadores preparados para o efeito para eliminar a água e para que o botillo adquira maior consistência. Todo o processo tarda entre 5 e 9 dias. O botillo tem o aval de Indicação Geográfica Protegida que certifica a sua qualidade de produção numa área específica, que coincide com os termos municipais da região de Bierzo.
O ponto alto da festa é o Jantar de Gala de Exaltação do Botillo, que este ano se realiza no sábado dia 11 de fevereiro e que reúne cerca de 1.800 pessoas tendo o botillo como prato central e tema de conversa em todas as mesas, como um humilde elemento representativo da tradição secular e ícone gastronómico de uma região peculiar como El Bierzo.
Autor:
Enrique Sancho
