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terça-feira, 23 de julho de 2024

O seu prato predileto talvez seja o mais simples do cardápio

As nossas perspectivas compõem um cardápio repleto de possibilidades com um preço a ser cobrado para cada uma que você queira escolher e esteja disposto a pagar por ela.

Podemos ter uma para cada situação da vida, e ela serve para que sua narrativa seja construída.

Penso hoje como contaria minha história se eu estivesse num contexto de certo reconhecimento público, como num programa de auditório, por exemplo, ou mais verossímil, contando minha história para alguém que acabei de estabelecer um vínculo.

Talvez algo que represente lições de superação e moral inclusas. Quem sabe, a infância dedicada aos estudos, com pais exemplares que sempre incentivaram a estudar e respeitar os outros, com um gran finale associado aos tempos na biblioteca na época de ensino médio e a difícil despedida de casa aos dezessete.

Mas será que a história é contada dessa forma somente quando saio do anonimato para alguém?

Caso eu chegue cansada do trabalho, ao abrir a porta e me deparar com os rastros da desorganização que deixei ao longo da semana, escolho aquela versão na qual minha infância entrega problemas palpáveis na vida adulta atual e também perceba que meus pais são tão imperfeitos quanto eu e minha atualidade está bem longe de ser isenta de problemas. Até exagero no tempero da autocrítica, vai.

Esse olhar, é claro, eu deixo só para mim.

Já num contexto de desilusão sorrateira, como divórcio, enfermidade comprometedora ou perda de um ente querido, por exemplo, o arrependimento por atitudes não tomadas anteriormente murcham qualquer orgulho de si. Talvez sejam os momentos que mais reavaliamos sobre nossa história real de vida, se é que existe uma narrativa imparcial sobre ela.

Talvez estejamos em busca da nossa história perfeita, seja escrevendo a cada dia ou tentando ressignificar o que já foi escrito com caneta permanente. Contudo, cada vez que tentamos modificar o que já foi escrito, rasuramos, rabiscamos e deixamos mais distante do que foi escrito de fato, além de esteticamente feio. O belo está preservado na originalidade, mesmo que não seja a mais encantadora das histórias de superação.

E a perspectiva mais requintada, porém não tão verdadeira, exige um alto preço a ser pago e pode ser que o sabor não seja aquilo que você esperava. O prato da casa, ainda que “em conta” e com ingredientes que talvez nem chamem atenção, seja o mais perto da originalidade do chef e aquela que mais lhe agrade o paladar.

Agora, encontrar justamente esse prato numa lista inúmera nao é tarefa fácil, pois trata-se de uma escolha individual que exige atenção e paciência do cliente, sem falar do que você está disposto a pagar.

Quer pedir ajuda do chef? Basta você se enxergar no espelho.

Quem você acha que criará a melhor perspectiva para você?

Voce confiará quando alguém te oferecer uma ao invés daquela que você pode criar?

O que posso te ajudar é dizer para ter paciência na sua escolha e que não está sozinho. Todos nós experimentamos nossas perspectivas sempre que a fome de vida nos acomete.

Autora:

Marize Teixeira

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