A chegada do final do ano traz consigo o início do período dos vestibulares e de um elevado número de inscrições de estudantes em busca da tão sonhada vaga na universidade. Neste ano, somente na primeira fase do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), de acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mais de 2,4 milhões de alunos compareceram ao primeiro dia de prova. Durante a preparação para este momento, muitas são as preocupações e as disciplinas priorizadas. Mas, afinal, qual a importância do estudo da língua inglesa para os exames vestibulares?
Atualmente, há muitos formatos diferentes para os exames. Alguns deles sequer contam com a prova de inglês, enquanto outros exigem nota mínima para avançar à fase seguinte. Ou seja, neste caso, a falta de conhecimento sobre a língua inglesa pode ser determinante para a eliminação do candidato. No Enem, por exemplo, das 45 questões totais das áreas de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, cinco são referentes ao inglês ou espanhol, dependendo da escolha do candidato, o que representa 11% e pode ser um fator decisivo para a classificação do estudante.
Outro aspecto importante está relacionado ao foco de cada instituição durante a elaboração das questões de língua inglesa. Parte delas tem como objetivo explorar gramaticalmente a língua em suas perguntas. Outras optam por uma abordagem direcionada à interpretação de textos. No caso gramatical, o estudo a partir da realização de exercícios pode ser funcional. Entretanto, a interpretação exige do candidato um amplo conhecimento sobre o inglês e uma extensa bagagem cultural.
Em termos de memória e aprendizagem, os indivíduos assimilam melhor aquilo que faz sentido para cada um. A memorização pura e simples de regras gramaticais, com vocabulário descontextualizado, não corresponde à aprendizagem da língua para que de fato seja usada durante a vida, seja no âmbito profissional ou social. Em se tratando de um idioma adicional, como é o caso do inglês, aprender como a língua funciona está longe de realmente conseguir usá-la, seja para compreensão ou produção, oral ou escrita.
Diante deste cenário, é fundamental entendermos, também, qual a importância do estudo da língua inglesa durante as etapas do período escolar e o impacto das instituições no que diz respeito à educação bilíngue.
O papel das escolas para o desenvolvimento de uma língua adicional
No caso do inglês, a maior parte das escolas segue uma linha tradicional de ensino, com foco em regras gramaticais e não no desenvolvimento da comunicação real. Neste caso, a aprendizagem da língua torna-se extremamente limitada, uma vez que dificilmente se consegue preparar o estudante para uma prova de vestibular, ou outro concurso, por meio de aulas ministradas em português “sobre o inglês”, isto porque cai-se na armadilha da memorização pura e simples.
Já quando o foco é desenvolver a comunicação por meio de um contato natural com a língua, é preciso apostar em uma abordagem que impulsione o processo subconsciente de internalização desse idioma. Desta forma, ao aprender outras disciplinas em inglês – que é a base da educação bilíngue, cria-se o contexto ideal para essa internalização. Assim, tanto o conteúdo explorado, quanto a língua, são desenvolvidos de maneira integrada e mais do que aprender a usá-la em situações reais, entender como ela funciona e melhorar a gramática, tornam-se tarefas simples, além do processo ser mais prazeroso, contribuindo para o processo de aprendizagem como um todo.
A contribuição da neurociência na compreensão do processo de aprendizagem
Em nível neuronal, a aprendizagem corresponde à neuroplasticidade, que é a mudança no nível de conexões entre os neurônios, formando novos circuitos no cérebro ou modificando os já existentes. A partir disto, errar, quando se está querendo acertar, faz com que o cérebro produza a química necessária para a neuroplasticidade acontecer. Desta forma, circuitos neurais se formam e a aprendizagem ocorre. Entretanto, é durante o sono que esses circuitos se consolidam. Por isso, é fundamental que o estudante também tenha boas noites de sono.
A atenção e o foco são condições essenciais para a neuroplasticidade. Isso envolve a produção de neurotransmissores específicos (a norepinefrina e a acetilcolina), que causam certo incômodo e “cansam” o cérebro. Esse “cansaço” é atenuado quando existe prazer em aprender determinado tema, porque um outro neurotransmissor (a dopamina) é produzido, completando as condições necessárias para a neuroplasticidade acontecer.
Exemplos de práticas cujo efeito positivo sobre a aprendizagem têm comprovação científica são a meditação e o exercício físico. Meditar produz efeito sobre a capacidade de foco. Já com relação ao exercício físico, não é qualquer tipo que surte efeito direto sobre a aprendizagem. Exercícios físicos em geral melhoram o bem-estar, mas não necessariamente abrem caminho para uma maior neuroplasticidade. Para que isso ocorra, é necessário que o exercício mexa com o equilíbrio do corpo e demande atenção do cérebro, provocando a produção da mesma química necessária para a aprendizagem.
Neste período de provas, estar preparado é a chave para alcançar os objetivos desejados. Por isso, seguir práticas saudáveis e apostar em uma educação de qualidade que promova a aquisição de uma nova língua como um processo subconsciente e poderoso, tornam-se cruciais para o bom desempenho dos alunos, não apenas no vestibular, mas no processo de aprendizagem como um todo.
Autora:
Mestra em educação e especialista em Neurociência e Comportamento, Vanessa Tenório é empreendedora e desenvolvedora do Systemic Bilingual, programa pioneiro de educação bilíngue no Brasil.
Não só importante para os vestibulares, mas para a vida toda, se utiliza em muitos lugares..