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quinta-feira, 25 de abril de 2024

Vitória e classificação: só no apito final

O Real Madrid e o Manchester City, na última quarta-feira, novamente nos proporcionaram fortes emoções. Na minha opinião, o confronto foi menos espetacular tecnicamente que a partida disputada na Inglaterra na semana anterior, mas ele foi capaz de levar os cardíacos para as UTIs, particularmente nos acréscimos dado pelo juiz italiano no segundo tempo.

O clube inglês, com a vantagem do empate, dificultou bastante as infiltrações da equipe espanhola na etapa inicial e ainda conseguiu criar algumas jogadas de perigo que, se passaram pelo sistema defensivo do Real Madrid, foram anuladas por Courtois, goleiro belga que já me causou muitos dissabores na Copa de 2018.

Se o primeiro tempo não foi eletrizante, é preciso ressaltar que ele foi de altíssimo nível técnico. Taticamente, as duas equipes avançaram suas linhas e tentaram, desta forma, dificultar e pressionar ao máximo a saída de seu adversário. Percebemos que no futebol contemporâneo de alto nível, a marcação não é uma responsabilidade exclusiva do setor defensivo. Todos, inclusive os atacantes, precisam marcar e impedir a saída tranquila do adversário, afinal, quanto mais próximo da meta adversária ocorrer a retomada da bola, maior a possibilidade de marcar o gol.

Se pensarmos que os defensores também possuem papéis ofensivos, caminhamos em direção ao conceito de futebol total já aplicado pelos holandeses em 1974. Nele, os jogadores trocam de posições constantemente sem que a estrutura de jogo se perca. Nenhum jogador tem uma posição de jogo fixa. A prática eficiente do futebol total se encontra umbilicalmente ligada à capacidade técnica e de adaptação de todos os jogadores. Caso contrário, parecerá muito mais uma pelada de final de semana do que um jogo profissional e o resultado será catastrófico.

Os atletas também precisam de muitas horas de treinamento para que os movimentos sejam naturalizados. Obviamente que este modelo de jogo cobra um enorme esforço técnico e físico dos jogadores. Não é qualquer equipe que conseguirá aplicá-lo da forma correta e eficiente. Quero aprofundar a questão em uma nova crônica. Voltemos ao jogo de quarta-feira.

Para fugir da marcação alta, o toque de bola rápido e preciso é fundamental e, na maior parte das vezes, os dois semifinalistas tiveram êxito. Superar a marcação inicial não significou, e não significa, encontrar o caminho aberto pela frente, como em um contra-ataque. Os atletas percebendo o desvencilhar da marcação, se agrupam rapidamente em linhas defensivas próximas que não cedem espaços para o ataque adversário.

Neste sentido, e precisando da vitória, o Real Madrid, sobretudo no primeiro tempo, agrediu pouco pelos lados do campo, facilitando a defesa do Manchester City. Vinícius Júnior foi a única exceção e, após o drible desmoralizante em Fernandinho no jogo anterior, estava muito bem marcado. Ampliar o espaço do jogo pelas laterais significa espaçar o sistema defensivo e obter algumas lacunas no território adversário.

O Real Madrid quase marcou no pontapé inicial do segundo tempo. E veja, pelas pontas. A jogada ensaiada e muito bem executada na saída de bola terminou em um cruzamento perfeito que Vinícius Júnior desperdiçou.

Precisando vencer, Ancelotti tornou sua equipe mais ofensiva ao substituir Kross por Rodrygo aos 23 minutos da etapa final. Mas coube ao City abrir o placar e deixar sua classificação muito bem encaminhada apenas 4 minutos depois da entrada do atacante brasileiro. Em lance coletivo, Bernardo Silva avançou após receber o passe de Gundogan e, ao se aproximar da área adversária, deu um passe na direita. Pela televisão, ocultando parte do campo, o toque pareceu equivocado, nas costas de Gabriel Jesus. Na verdade, o ex-atacante do Palmeiras havia atraído a marcação e, ao deixar a bola passar, Mahrez entrava livre, pela área e também no ângulo da transmissão, para chutar forte e abrir o placar.

Desta feita, na minha opinião, o incrível Courtois falhou. Ele se posicionou para um chute cruzado e, ao tentar adivinhar a jogada do atacante do City, ele deu aqueles milésimos de segundos que são fatais para qualquer goleiro. Mahrez chutou no canto de Courtois que não teve tempo de reação para espalmar a bola. Independente do gol sofrido, não tenho medo de afirmar que o arqueiro belga realizou uma excelente partida, como de costume.

Apesar do imediato incentivo de sua torcida, o Real Madrid sentiu o gol e a classificação ficou nas mãos, ou melhor, nos pés do clube dirigido por Guardiola. A equipe inglesa, que já havia desperdiçado inúmeras oportunidades em seu estádio, perdeu outra que lhe custaria a classificação. Grealish fez belíssima jogada individual e bateu tirando de Courtois, mas Mendy, de forma espetacular, tirou a bola em cima da linha.

Quando se joga contra o Real Madrid, dentro do estádio Santiago Bernabéu, com sua enlouquecida torcida empurrando os jogadores, as oportunidades de matar o adversário não podem ser desperdiçadas por maior que seja o seu domínio do jogo e até do placar. O Real não havia dado um único chute na direção do gol até o minuto 90. Como já havia ocorrido contra o PSG e o Chelsea, nas oitavas e quartas de finais respectivamente, a equipe espanhola precisou de poucos minutos para ressuscitar e cravar profundamente a estaca do peito de seu adversário.

Aos 45 minutos, o Real lançou a bola na área do Manchester. Benzema conseguiu escorar para a pequena área e encontrou o iluminado Rodrygo que se antecipou à Ederson e empatou o jogo. O impossível ocorreu no lance seguinte, Carvajal cruzou e Rodrygo, de cabeça, virou o placar.

Empolgados, o Real Madrid partiu para o ataque na prorrogação. Aos cinco minutos, o melhor jogador da atualidade, Benzema, adiantou-se à marcação de Ruben Dias e deixou o corpo para sofrer o pênalti. O próprio Benzema bateu com muita segurança para fazer 3X1. O City, que não havia se recuperado dos gols sofridos durante o tempo normal, deixou de lado toda a organização tática e partiu para o ataque na base do desespero, em vão.

Em Paris, cidade das luzes, outro duelo empolgante deverá compor a história do futebol. O Liverpool, derrotado na final da Champions pelo Real Madrid em 2018, tentará sua “vingança”. Duelo de gigantes, de camisas pesadas, de técnicos extremamente capazes e de jogadores diferenciados. Os dois clubes somam 19 títulos na competição. Dessa vez, o Real Madrid não contará com o seu mítico e pulsante estádio, mas é o Rei da Europa e mostrou, ao longo de toda a competição, que ele não está morto, vida longa ao rei!

Autor:

Luiz Henrique Borges

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