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quinta-feira, 18 de abril de 2024

 Uma Entrevista Com o Cantor Guto MC

No dia 30 de Abril de 2022 tive o prazer de entrevistar o cantor matogrossense de rap Carlos Agusto da Silva Duarte,  Guto MC. Além de cantor, o jovem também é estudante de psicologia.

Ao som turbulento da capital Cuiabá, tivemos nossa conversa. E eis o que adveio dela.

ARIEL: Como foi seu percurso até chegar à música e, por consequência, ao seu reconhecimento como produtor cultural?

GUTO: Meu percurso até chegar à musica (eu lembro) se deu nas batalhas de rima. O intuito nem era produzir música, só a questão mesmo de … Na batalha tem aquela questão do instrumental mesmo. Você tem que encaixar no instrumental. Tem que acompanhar a batida do beat. Eu falei: e se eu me aventurasse pela música? Aí eu comecei.

ARIEL: Como você enxerga o fazer musical periférico?

GUTO: Acredito que o fazer musical periférico, por ser periférico, incomoda, por estar afastado da classe elitista. Ele incomoda quem tem porque o fazer musical periférico vai falar daquela realidade social. E nem todo mundo está preparado para ouvir. Quando as pessoas não ouvem, elas fazem o que? Rechaçam.

Mas eu vejo que o fazer musical periférico é importante, porque todas as artes tem que ser ouvidas no sentido de que… quando você faz uma música, porque eu tenho ciência de que faço uma arte de contracultura e isso sociologicamente é algo que incomoda muito, né, a arte de contracultura. Porque eu falo do que eu vivo; eu não faço uma arte que é aquela colocada num padrão aceitável eu digo. Hoje, felizmente, tem muitos cantores de periferia queffazem musicas grandiosas, que todo mundo ouve. Mas é isso. Tenho total ciência do que eu faço.

ARIEL:O que te motiva a continuar num país em crise cultural?

GUTO: O que me motiva é justamente confiar em mim. É perceber por outros artistas que é possível você fazer uma carreira por meio da música, porque a arte possibilita isso. As pessoas gostam da arte, então eu tiro disso a minha motivação, dos outros artistas, que eu vejo que dá muito certo porque é um país em crise cultural. É uma crise cultural, como menciona bem a pergunta, eu já percebo que é muito difícil. É tudo muito difícil. A falta de oportunidades; não é igual para todos, né? Eu percebo que a gente vive uma competitividade também muito complexa. E a gente tem que se destacar também no meio artístico. Você tem que mostrar para as pessoas quem você é e o que te diferencia de outros artistas porque é um detalhe, né? É um detalhe para que você mostre esse lado.

ARIEL:O que você espera da sua arte em relação ao mundo e a você mesmo? Pretende chegar a algum lugar ou a produção vem como um ato criativo livre?

GUTO: Eu espero que o mundo me ouça primeiramente, que as pessoas conheçam meu trabalho porque eu estou na minha caminhada; estou fazendo meu caminho justamente porque eu quero que as pessoas me ouçam. Acho que eu sempre tive esse fascínio em ser artista, até que em 2019, quando eu comecei, eu comecei a me ver mais como cantor. E hoje, sim. Eu quero ser músico. Mas desde antes a arte sempre me despertou o desejo de fazer algo, desde criança. Então, eu espero que o mundo me ouça, porque eu sinto que isso vem começando, o movimento… Lancei um solo, Ei Gatinha. Inclusive, ouçam quem estiver lendo essa entrevista.

E é isso. Eu vou vendo uma emancipação. Eu quero me emancipar cada vez mais.

Pretendo chegar a algum lugar. É essencial eu traçar o que eu quero, quem eu vou ser e como vou fazer isso. Então, sim: eu acho que todos esses detalhes do que eu venho fazendo induzem para eu chegar em algum lugar. Então, sim. Eu pretendo ser um artista conhecido. Isso é bom, né? Valorizar a nossa arte! Por isso, eu quero, ao mesmo tempo, levar pessoas comigo, me emancipar coletivamente -com pessoas da minha realidade- porque eu acho necessário e quero poder abstrair de tudo isso dinheiro para fornecer condições para minha família porque é muito bom.

Mas a arte pode ser um ato criativo livre. Acho as duas ideias muito válidas, mas o meu estilo de arte hoje é feito com o objetivo de chegar a algum lugar. Antes eu simplesmente fazia por fazer. E também é belo você fazer por fazer.

ARIEL:O que você gostaria de dizer para quem nos lê?

GUTO: Gostaria de dizer para que vocês ouçam artistas independentes. Ouçam artistas do cenário de vocês porque é importante valorizar a cultura de nossos conterrâneos.

Ouçam também Baby Gutinho através do link:

Autoria:

Ariel Von Ocker é escritora, psicanalista, poliglota e acadêmica de Letras e História. Também já trabalhou no teatro como dramaturga e atriz. Autora com seis livros publicados, atua desenvolvendo pesquisas na área da psicanálise, literatura sob perspectivas historiográficas e estudos deIkebana gênero.

Atualmente é editora-chefe na Revista Ikebana, redatora no Jornal Tribuna e colunista no Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, além de participar da iniciativa Projeto Simbiose, juntamente com Michelle Diehl e Cristina Soares. Além disso, participa do Coletivo Escreviventes. 

Contato: @ariel_von_ocker

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