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terça-feira, 16 de abril de 2024

O que somos capazes de fazer…Caso: Mar Morto

Em qualquer aula de geografia que se prese, o Mar Morto é citado, não porque ele esteja morto (ainda não está…), mas sim, pelas suas características intrigantes. Para começar, o Mar Morto não é mar, mas sim um lago salgado!

O Mar Morto se localiza no Oriente Médio (entre os países de Israel, Palestina e Jordânia) e recebe as águas do Rio Jordão (rio conhecido por todos os cristãos).

A sua principal característica é a alta concentração de sal (340 gramas por litro enquanto que os oceanos têm em média de 30 a 35 gramas), o que praticamente impede a sobrevivência de qualquer espécie de planta ou animal, exceto a bactéria Holoarcula marismortui. Essa alta salinidade é devida ao fato do lago ficar numa área com clima bastante seco fazendo com que as suas águas evaporem, sobrando somente aos sais. Paralelo, a falta de chuvas na região e o fato de ficar a 400m abaixo do nível do mar (a depressão mais profunda do planeta), fazem com que ele fique cada vez mais salgado.

Você pode até tentar mergulhar, mas, devido à alta densidade salina, isso não é possível, então você fica flutuando!

Várias mineradoras e indústrias químicas exploram o Mar Morto para extração de sal, potássio, cromo, manganês, cálcio e zinco. Essas substâncias são utilizadas na produção de fertilizantes, agrotóxicos, metais, medicamentos e cosméticos, portanto, o Mar Morto tem uma importância econômica muito grande, inclusive turísticas.

Mas, o Mar Morto, hoje, está literalmente morrendo… Pois é… mais uma intervenção do ser humano.

Acontece que, a partir de 1960, o desvio e o uso das águas do rio Jordão para irrigação, vem reduzindo a quantidade de água que o rio deposita no Mar Morto, paralelo aos elevados índices de evaporação, mas também, devido à retirada da água do próprio Mar Morto para ser utilizada no abastecimento (graças ao processo de dessalinização) fazem com que os níveis estejam abaixando, dia a dia.

Estima-se que o Mar Morto já perdeu 35% da sua superfície entre 1954 e 2014, diminuiu em cerca de 20 metros o nível (um metro por ano). Devido a isso, se formam também os “bolaines” (que são crateras formadas pela falta de água) que hoje somam mais de 6.000!

Uma das ideias, para reverter esse quadro é bombear água do Mar Vermelho, via um canal, para abastecer o Mar Morto com 300 milhões de metros cúbicos de água por dia (o chamado “Canal da Paz”) a um custo de US$ 7 bilhões.

A questão ecológica e os impactos desse bombeamento e o uso dessa água se tornou objeto de discussão, especialmente em Israel, no entanto para viabilizar o projeto, a obtenção da paz entre os países é um dos motes usados.

Nas previsões de geólogos, há consequências com as quais os técnicos precisam lidar e ainda não possuem todas as respostas. A principal dúvida diz respeito ao efeito que poderá acontecer quando ocorrer a mistura de dois tipos de água, completamente

diferentes em sua composição mineral e salinidade. Isso pode provocar uma diluição da água do Mar Morto, levando a alterações na camada superior da lâmina d’água, principalmente em seu aspecto biológico, paralelo à precipitação de gipsita (gesso), prejudicando a indústria de mineração, sem deixar de mencionar a interferência direta na economia turística em torno do lago.

O Mar Morto é mais um exemplo da importância de considerarmos todas as variáveis físicas, químicas, biológicas/ecológicas e sociais, antes de interferirmos no meio ambiente pois, dependendo das consequências, o assunto pode se tornar “bem salgado”…

Temos que entender que, embora nos julguemos “sapiens” estamos longe de honrarmos esse título, mas isso devemos mudar… urgentemente!

Autor:

Prof. Biólogo Geraldo G.J.Eysink
Para sugerir ou criticar mande Email: geraldo@hc2solucoes.com.br 22 Abril de 2022

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