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sábado, 20 de abril de 2024

Os sem guarda-chuvas

Sou dessas pessoas que não tem guarda-chuva. Já percebeu que este é um tipo de pessoa? Não ter guarda-chuva é uma escolha complexa e poucos pensam sobre isso… Já pertenci ao outro lado, já tive um guarda-chuva preto desses chiques e automáticos. Mas como todos: ele quebrou.

Em auto proferido poder de palavra, afirmo que nós, os que não têm guarda-chuva, somos pessoas intensas e sensíveis. Gostamos de sentir a chuva, a água que limpa e magicamente afasta os maus olhados… Gostamos de lidar com o acaso como um amigo, digo sempre que vou… Quando a chuva diminuir.

Nós somos pessoas sensíveis à energia do universo. Sabemos intimamente por intuição, qual caminho é o melhor. Muitas vezes é o caminho mais difícil, justamente o que por acaso, nos ensina mais e melhor. Somos livres de espírito e seguimos o ritmo da natureza. Intimamente ligados ao momento presente.

Como um ex-portador de guarda-chuva, posso admitir que eu não sabia o que era viver… Eu era tão comedido e preocupado. Já ligava pra um taxi ou outro meio de transporte, um que não envolvesse pular poças d’água e ser molhado em desprevenido. Meus encontros eram programados e tão chatos. Eu chegava seco, aparentemente intacto. Um homem que não se comovia com a água que cai do céu.

Além da guerra pateta de sombrinhas e guarda-chuvas nas calçadas. Eu segurava firme e dirigia fugindo de várias colisões entre as arestas. E algumas vezes de belos duelos à espera do ônibus de todo dia. Sair na chuva era agitado e muitas vezes eu me forçava a estar ali.

Mas calma, eu sei que parece perfeito ser alguém que não tem guarda-chuva.  Mas existem detalhes, pequenas nuances no existir que nos confrontam a todo o momento. Pois mesmo que eu ame ver as gotas de chuva caindo entre as folhas das árvores, eu por vezes me deparo com misteriosas poças d’água, onde eu preciso escolher se passo ou dou a volta, preciso decidir se ela é profunda ou rasa. É angustiante e ensina mais sobre nós que sobre poças. Pois eu sempre olho pro mundo de forma diferente a cada poça d’água que encontro no caminho.

Por vezes também, somos os centros das atenções, de alguma forma parecemos livres à quem se esconde. Somos chamados de loucos e outros nomes, tudo por sentir a água purificadora, que quando não em tempestade, acalma anseios. E sempre há o, porém. O acaso que por acaso, não sabe se decidir. Não sabe se chove ou não.

Você estaria preparado? É de grande entrega viver assim sem apego ao conforto. Exposto ao acaso, ao efeito do tempo. Pois é só vivendo que se sente. É só se permitindo que se compreende. É só chuva. Vamos a pé.

Autor:

César Felipe de Sousa

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