Na Rua do Ouro, n°75 há um casarão de janelas altas e paredes severas, onde vinhas espiraladas serpenteiam por todo frontão da residência. Suas fenestras não brilham com o cair da noite e numerosos são os ecos fantasmagóricos que da casa escura vêm ao levantar da lua.
Lá, mora um elfo de orelhas pontudas e fala suave. Seus cabelos são loiros e refletem o brilho do sol, e os olhos são verdes e profundos. Seu nariz é pontudo e os lábios, finos. Esse elfo divide a velha casa com uma bruxa velha de dentes tortos e escurecidos.
Muitas eras viram a casa dos ecos e a rua de paralelepípedos. E muitas gentes estranhas miraram os frontões sinistros da residência escura.
Naquela casa, gritos ecoam quando a bruxa se encoleriza e gargalhadas maliciosas saem dos lábios finos do elfo loiro.
O que se sabe é um mistério do não-dito. Isso porque a velha casa se perde da visão quando a mirada se estende por sobre a velhice insondável do bairro carcomido pelos anos de esquecimento. O que há ali é o escuro e o silêncio. E no escuro e no silêncio, pairam as figuras insólitas que apenas vi em minha imaginação por uma velha janela em meu quartinho.
Pensei também ter visto um homem de terno preto e cartola alta, em cujo peito tatuado havia uma rosa vermelha perfumada com vinho e segredo.
E o elfo e o homem dançavam na madrugada, como se fossem um para o outro. Findou a noite. O sonho esmaeceu. O homem partiu e o elfo volveu à casa e à bruxa. Eu o vi caminhando e senti sua dor.
Antes de partir, ele contempla o sol laranja que desponta pensando:
“Ele foi tudo para mim. Para ti, não foi mais que nada.”
Seu passo é tímido e a voz é oca.
Me deito na cama e um último eco: foi seu passinho que escutei na rua. Nunca mais hei de ouví-lo outra vez.
Autor:
Gabriel Felipe Montes Lima