MONTESSORI E PIAGET: Contribuições na arte do desenvolvimento infantil.

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Nascida no século 19, vivendo até metade do século 20, sendo a primeira mulher que enfrentou preconceitos por ser estudante de medicina e médica na Itália e a segunda na Europa, Maria Montessori3 (1870 – 1952) nasceu em 31 de agosto de 1870 na cidade de Chieravale, na Itália. Enfrentando o machismo de uma Itália extremamente religiosa, por ter sido mãe solteira, sem o apoio do próprio pai, por suas decisões tão audaciosas à época, e aos poucos ainda deixando a medicina para se dedicar a educação. Maria Montessori tem como inicio de seu trabalho no desenvolvimento infantil e educação, com crianças deficientes, e muito interessada nos trabalhos de Édouard Séguin, utilizou-se do material de Séguin e obteve ótimos resultados. Na época, a educação era marcada por uma rigidez e autoritarismo que chegavam facilmente a castigos físicos, porém, Montessori com uma visão de incomodo e questionamento, muda o rumo da educação tradicional ao introduzir um pensamento incentivador dos potenciais criativos desde a primeira infância. Suas técnicas tendem a olhar para o indivíduo como um ser criativo, cheio de liberdades para explorar o mundo, com aprendizado envolvido com o ambiente e a sociedade ao mesmo tempo respeitando a individualidade de cada ser humano. O Método Montessori tem como ênfase o desenvolvimento infantil durante a primeira infância, partindo do principio de que toda criança tem a capacidade de aprender de forma espontânea e se envolver com o ambiente que a cerca. Este ambiente é trabalhado de modo que seja acolhedor, envolvedor e acessível para que qualquer criança, em cada fase, justamente pela possibilidade de desenvolver-se livremente ao mesmo tempo que respeita fatores como tempo, ritmo, personalidade de cada criança. Além de um ambiente adequado e rico em estímulos, Montessori4 também agrega texturas, cores, formas, peso, barulho, cheiro, etc. Em tudo que possa ser considerado estímulo a criatividade e curiosidade das crianças que desde muito novas são movidas pelo contato com as mãos, trazendo assim um aprendizado que vem do abstrato ao concreto. Uma palavra chave muito presente nesse método é a autonomia, aonde dentro desse ambiente desenvolvedor a criança vai fazendo suas próprias escolhas, com reconhecimento dos seus atos e suas consequências, mas sempre a luz de muito acolhimento e respeito. Além do Método de Maria Montessori no quesito educação, existe uma grande contribuição para estudos na psicologia e desenvolvimento humano, este segundo, dividindo em 4 fases. Montessori propunha a quebra de uma barreira, onde a criança era vista como um mini adulto. Essa teoria foi fundamentada em suas próprias experiências vividas, a qual ela questiona o adulto a olhar a criança com respeito, a sua altura, não só fisicamente, mas mentalmente, sentir como elas sente. Fazendo uma correlação com este ensino de desenvolvimento humano de aspecto acolhedor, levando-se em consideração a capacidade de compreender a criança em pleno processo de aprendizagem por relacionar através das interações ambientais e como essa relação possui a importância de elevar a autonomia, a capacidade de uma tomada de consciência em resolver problemas lógicos pela assimilação e acomodação o suíço Jean Piaget (1923-1980), com doutorado em biologia e na sequência aprimorou-se seus estudos em psicologia epistemológica e educação, Piaget nos revela que a criança para um desenvolvimento afetivo-cognitivo dependerá sempre dos estímulos e vivências através das relações familiares, sociais, culturais perante a formação biológica. Com os estudos de psicologia genética Piaget constrói a tese de adaptação com estudos de moluscos no lago, como eles se modificavam biologicamente em uma outra condição climática adversa. E fez essa inter-relação com o desenvolvimento biológico e físico no universo do relacionamento humano com ênfase na estrutura de cognição. E essa abordagem fortalece e representa a condição ambiental voltado ao crescimento humano de cada criança e sobretudo no contexto escolar, como estudantes se desenvolvem ao aprenderem novas teorias, que recursos são utilizados para assimilar e aprender a cada desafio, como se relacionam diante das regras de convivência com relações interpessoais. Como realça Rubem Alves5: “Piaget, antes de se dedicar aos estudos da psicologia da aprendizagem, fazia pesquisas sobre os moluscos dos lagos da Suíça. Os moluscos são animais fascinantes. Dotados de corpos moles, seriam petiscos deliciosos para os seres vorazes que habitam as profundezas das águas, e há muito teriam desaparecido se não fossem dotados de uma inteligência extraordinária. Sua inteligência se revela no artifício que inventaram para não se tornarem comida dos gulosos: constroem conchas duras e lindas (que os protegem da fome dos predadores. Parece-me, então, que Piaget, provocado pelos moluscos, concluiu que o conhecimento é a concha que construímos a fim de sobreviver. O pensamento, mais que um simples processo lógico, desenvolve-se em resposta a desafios vitais. Sem o desafio da vida o pensamento fica a dormir… O pensamento se desenvolve como ferramenta para construirmos as conchas que a natureza não nos deu. O corpo aprende para viver. É isso que dá sentido ao conhecimento. O que se aprende são ferramentas, possibilidades de poder. O corpo não aprende por aprender. Aprender por aprender é estupidez. Somente os idiotas aprendem coisas para as quais eles não têm uso. É o desafio vital que excita o pensamento”.

E com isso as contribuições de Montessori e Piaget nos revelam a importância das interações ambientais por despertar a curiosidade da criança em aprender e a construir valores com estímulos afetivos e cognitivos com os pares, genitores e professores. E são benéficas para elucidarmos a arte da educação por despertar a autonomia moral por uma infância sadia.

3 https://pt.wikipedia.org/wiki/Maria_Montessori

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4 https://www.infoescola.com/pedagogia/metodo-montessoriano/

5 ALVES, Rubem. Sobre moluscos e homens. Folha de São Paulo, domingo, 17 de fevereiro, 2002.

Autores:

João Francisco Mantovanelli, formado em Letras, Especialista em Relações interpessoais na escola e a construção da autonomia moral, Bacharel em Direito, Pedagogo e Pós graduando em Direito Ambiental e Urbanismo.
Katia Serafim de Oliveira Alves, bacharel em comunicaçáo social e graduanda em psicologia.

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