O povo peruano descende da civilização inca, dominada pelos espanhóis no início do século XVI. O Peru foi declarado independente em 1821 pelo argentino José de San Martín, quando em 1824, a luta contra o domínio espanhol foi vencida sob a liderança de Antonio José Sucre.
De lá para cá, a história peruana passa por avanços e retrocessos como a isenção de impostos aos indígenas, o fim da escravidão dos negros, a perda das jazidas de nitrato para o Chile, o domínio militar de Juan Velasco Alvarado e a eleição de Alberto Fujimori que prevaleceu no poder de 1990 a 2000, depois de um golpe político no país quando em abril de 1992 utilizou o exército para reprimir o povo, fechou o Congresso e a Suprema Corte e adotou uma posição de governo por decretos, um dos quais obrigou a esterilização de mulheres como forma de controle de natalidade. Mas aprofundar-se nesse caminho é inviável, pois sua história não cabe nesse texto.
Talvez seja possível que um dos momentos marcantes para os peruanos signifique o atual, ou seja, a eleição de José Pedro Castillo Terrones. Não que isso represente o fim dos problemas por lá vividos — muitos parecidos com os daqui — mas pelo fato de o novo presidente legitimado pelo povo assumir o governo com o propósito de conciliar sua aldeia e governar com ela.
Parece que o novo mandatário está convencido que não é superior aos seus, pois, recusou-se a pisar o tapete vermelho aberto em sua homenagem, deixando claro que não se enquadra no modelo de governo que ora sai do poder, fugindo das convenções sociais, elevando suas crenças e seus valores, assumindo sua condição de professor primário e filho de agricultores analfabetos, para, a seguir, receber a faixa presidencial.
Não se pode negar que a chegada de Castilllo à chefia do governo tenha sido para ele motivo de surpresa, pois, ao candidatar-se ao cargo de presidente não possuía vínculos com Lima. Porém, seu advento à presidência possui grande força simbólica, pois, quebra o domínio da elite corrupta daquele país.
É fato que parte de eleitores temiam a eleição de Castillo. Entretanto, sua campanha, marcada por mensagem conciliadora, foi eficaz para sua vitória. E isso foi reafirmado quando se dirigiu aos que votaram nele e também àqueles que não o fizeram, afiançando que mudanças não serão feitas por fazer, mas serão implantadas para atender aos interesses da maioria dos peruanos e ao que o povo decidir.
Igualmente marcante, foi o ato de denunciar as mentiras — carro chefe da campanha de Keiko Fujimori e da elite que a apoiou — negando que iria expropriar empresas, mas respeito à Constituição, embora cogite a possibilidade de revisão da atual para pautar um Estado que atenda aos que até agora foram, e são, marginalizados em seu país.
Ao que tudo indica, ainda que Castillo afirme governar com a maioria, o gabinete do governo será composto por membros de extrema esquerda — e não se poderia esperar que fosse diferente, uma vez que sua eleição remete à derrota da extrema direita —, pois, foi atraído a candidatar-se por Vladimir Cerrón, considerado dono do Partido esquerdista Perú Libre, com ideologia cubana, o que motivou medo de muitos peruanos, principalmente da parcela abastada.
Entretanto, se esse era o medo das elites locais, Castillo tratou de tranquiliza-las garantindo que não pretende estatizar a economia nem adotar políticas de controle cambial, o que certamente dará a si um pouco de conforto de governança, se é que isso pode ser garantido nos países periféricos da América, considerando a influência do Norte para a manutenção de seus interesses.
Dentre as promessas, ficou evidente a decisão de que os peruanos estarão sob a proteção do Estado, principalmente a população camponesa, que por sentir-se em estado de abandono adjudica para si a segurança de seu condado, aplicando justiça com as próprias mãos, refreando os infratores com castigos públicos. Igualmente, ficou prometida a expulsão de estrangeiros que cometerem crimes em território peruano, que aos jovens desocupados e fora da escola será dada oportunidade de fazer o serviço militar, que pelo menos setenta por cento da população será vacinada contra a COVID-19 até dezembro, criação de empregos, e, por meio de referendo, instituir uma Assembleia Constituinte com a finalidade de rever a que ora está em vigor.
Apesar dos ocorridos, seria impossível negar que a proclamação de Castillo como vencedor das eleições e sua posse como chefe de governo esteve em jogo, pois, coloca em risco os interesses de muitos tradicionalistas peruanos — e de outros países americanos.
Enfim, venceu o bom senso. E a vitória e posse de Castillo representam, em tempos atuais, a esperança de que é possível canalizar vias que não sejam somente a da submissão aos interesses do capitalismo selvagem, mas que mesmo com a presença dele, é cabível a construção de sociedades solidárias e de um mundo fraterno, justo e pacífico.
Na realidade, não se pode prever o futuro do governo que ora se instala, considerando que de julho de 2016 até 28 de julho de 2021, o Perú foi governado por cinco presidentes, fato que pode sugerir a obrigação daquele povo buscar, com seu governante máximo, a estabilização da vida política de seu país.
Que Castillo consiga unificar, pacificar e governar seu povo. Que o grande vencedor das eleições peruanas seja o ‘Demos’ e que o novo presidente faça bom uso da ‘Cracia’ que adquiriu por meio do voto. Que a América Latina encontre seu próprio caminho.
Autor:
Pedro Paulino da Silva é professor, graduado em Ciências Sociais pela FAFI de Cachoeiro de Itapemirim e Mestre em Educação pela UFES.
Que fique ” Castilho”! .Vamos torcer pra que pelo menos no Peru melhore, pq aqui no Brasil temos que só consumar um belo golpe!
Isso mesmo Leiza! A coisa está branca.