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quarta-feira, 17 de abril de 2024

Dia das mães é todo dia

O Brasil ainda é o maior país católico do mundo. Digo ainda, pois as últimas gerações aparentam não dar tanta importância à religião, sem contar o avanço dos evangélicos que já chegam a 30% da população. Mas há algum tempo, se comemorava, com um certo alarde, o dia de vários santos. Praticamente, em cada dia do ano havia a homenagem a algum deles, e estes eram também relacionados a uma atividade laboral. São Tomé aos arquitetos, São Jorge aos bombeiros, São Lucas aos médicos e por aí vai. Parece-me que o foco mudou, e a tônica para as comemorações mira, agora, mais o lado comercial. Nesse final de semana é o chamamento para um desses dias de homenagem, mas que o tornam, mais que tudo, um dia de compras.

Segundo domingo de maio, dia das mães. A segunda data de venda do comércio, após o Natal. Todo ano são as previsões de vendas que enchem os noticiários. Vão vender mais ou menos que o anterior. Qual o percentual de aumento ou diminuição nas vendas?

Segundo domingo de maio, dia das mães. Na modernidade da comunicação, milhares de textos, vídeos e mensagens no zap zap, replicadas com a rapidez e falta de atenção que nenhuma mãe tem. O importante é se mostrar presente, muitas vezes nos grupos, não estar presente para, e com a mãe.

Segundo domingo de maio, dia das mães. Mais de 400 mil lares no Brasil, de alguma maneira terão um domingo diferente. Ou sem a mãe, ou a mãe sem o (s) filho(s). Ou como já vi muitos relatos, sem ambos. Não há medidor de dor, mas alguém teria ideia de uma dor maior, que a de uma mãe que não terá o filho ou filha com ela nessa data?

Segundo domingo de maio, dia das mães. Milhares de mães estarão lutando contra a morte, e outras tantas estarão rezando pelos filhos que abarrotam os hospitais nessa mesma situação, fato esse que poderia ter sido evitado, na sua grande maioria, se não tivéssemos tido uma política de saúde por parte do governo federal, que foi tudo, menos política de saúde.

Segundo domingo de maio, dia das mães. As profissionais de saúde, de segurança, de transporte, dentre muitas, estarão, nesse dia, labutando para que os demais tenham o prazer de estar nas suas casas com as mães.

Segundo domingo de maio, dia das mães. Milhões delas terão quase nada em casa para comer com os filhos, e seguramente nesses lares, não se sabe da comemoração desse dia, pois é a sobrevivência que está em jogo, algo que as mães fazem de melhor no instinto da preservação da espécie.

Infelizmente, foi criada uma normalidade absurda, em que estatísticas e cálculos financeiros se sobrepõem aos sentimentos e necessidades tão íntimos ao ser humano. Temos visto isso com frequência nos noticiários, mas se tornou mais chocante no momento pandêmico atual, e o posicionamento, por exemplo, do atual ministro da economia.

Lembro-me perfeitamente do segundo domingo de maio de 2020. Foi um ano atípico e o zap zap “bombou” ainda mais, pois as medidas de isolamento estavam em vigor. Muitas frases, “ano que vem estaremos juntos”. Para alguns será verdade, para outros, nunca mais será verdade.

Mãe não significa ter filhos, mas praticar a maternidade. Quem é, e quem tem MÃE, sabe bem. Então para todas e todos que podem estar aqui nesse dia, que podem senti-lo, vivê-lo, lembrem-se que não há dia das mães. Na verdade, não deveria haver a lembrança de nenhum dia como um dia de algo ou de alguém, mas que, simplesmente, se celebrasse o dia que cada um tem, com todos os santos, profissões e homenageados que fazem parte da existência da vida. Isso seria qualquer dia e todo dia. E certamente isso incluiria, mais que justamente, todas as mães. Afinal a população de todo o país não nasceu somente no segundo domingo de maio. Felicitações diária a todas as mães, e aos que podem brindar, simplesmente, o santo dia de todo dia.

Autor:

Francisco Martins Neto

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