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sexta-feira, 22 de novembro de 2024

Notícias do Tempo

Na verdade a previsão do tempo não fazia muita diferença, pois quando se sai com o Groselha, é chuva (e como chove!) na certa. Mas como seriam dias de pescaria e ainda demorariam um pouco para me apanhar, liguei o rádio em busca de alguma notícia sobre o clima.

Deste modo, soube o que um famoso ex-juiz que cumpria pena em sua residência comera no café da manhã. A notícia seguinte era sobre um jogador de futebol que havia comprado um carro importado caríssimo e de cor vermelha. A estas se seguiram outras completamente sem importância (quem se interessa por este tipo de notícia?!), mas nada de meteorologia.

A caminho de Furnas a chuva teve início (mas não fim). Não sei quanto tempo Groselha e seu filho levaram, mas conseguiram adaptar uma bateria no banco de trás para que o garoto fosse treinando no trajeto. Já na represa, enquanto montávamos a barraca (na lama) desejei que o carro deslizasse para as águas para que a bateria saísse, enfim, de minha cabeça.

Horas depois a chuva deu uma (bem) pequena trégua. Já era tarde e pensei que não compensaria pegar todo o material e descer pelas pedras escorregadias, mas como os bracinhos do menino ainda estivessem à toda, achei que qualquer coisa valeria a pena. Na descida “toda queda ajuda”, rapidamente cheguei e me instalei numa pedra (claro), mantendo uma distância segura do Grosa. Antes que o anzol fosse à água a chuva voltou redobrada. Era impossível permanecer ali, então desistimos. Nos servimos de bebidas, comida, bateria (claro) e dormimos.

O dia seguinte continuava com chuva mas felizmente sem as baquetas que misteriosamente haviam sumido (hê, hê, hê…). Sequer saímos de onde estávamos. No terceiro dia (isto lembra o dilúvio), era preciso decidir pela volta ou afogamento coletivo. Depois do almoço a chuva cessou mas o tempo continuava fechado e ficamos “estudando” o que fazer.

Groselha disse que resolveria o problema perguntando a alguém nativo da região como ficaria o tempo. Logo um idoso passava pelo local e demoradamente explicou-nos que pela serra, altura das nuvens, vento, cor da água, voo dos pássaros e uma série de outros detalhes seguramente não choveria mais. Ainda me lembro do sorriso do Grosa, pela boa notícia mas principalmente por ter consultado a pessoa certa.

Descemos com a tralha toda (inclusive o Groselhinha) e nos instalamos. O tempo não me parecia muito bom, mas… quem sabe, sabe. Novamente não deu tempo de molhar o anzol (na água da represa) e outra tempestade desabava sobre nós. Toda tralha acima, desmontamos a barraca e voltamos à Itatiba. No (triste) trajeto de volta tive de aguentar um chocalho improvisado com latinhas de cerveja (sim… o álcool é prejudicial à saúde).

Já em casa e depois de um banho liguei a TV. Justo no momento do boletim do tempo. A previsão era de (muita) chuva nos próximos dias. Mas… quem está interessado neste tipo de notícia?!

Autor:

Miguel Arcangelo Picoli é autor do livro Momentos (contos) e Contos para Cassandra (em homenagem à escritora Cassandra Rios).

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