Uma crônica sem tempo para acabar

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Ontem usei uma expressão e logo depois me dei conta do quão inadequada ela é: “ganhar tempo”. A impropriedade está no fato de que tempo não se ganha, apenas se deixa de perder. O primeiro homem a pisar na Lua certa vez disse o seguinte: “Acredito que todo ser humano tem um número finito (determinado) de batimentos cardíacos. Não pretendo desperdiçar nenhum dos meus fazendo exercícios por aí.” Pois nossos momentos são as batidas finitas de um coração. Não convém desaproveitá-los com determinadas correrias. Não se deve gastar todo o nosso fôlego na azáfama diária.

Nosso tempo é escasso, então é preciso usá-lo da melhor forma possível. Parafraseando o que escreveu Thomas Mann no romance A Montanha Mágica, é necessário conferir ao tempo um pouco de peso e profundidade, evitando assim que ele se torne apenas tempo e nada mais que isso. Em outras palavras, é essencial ocupar-se com aquilo que vale a pena e que torna as pessoas melhores. Infelizmente, essa é uma lição que se aprende depois de anos de arritmias e cansaços, quando as batidas do coração já estão escassas como as jabuticabas daquele texto atribuído a Rubem Alves.

Talvez seja por tudo isso que a frequência cardíaca diminui com o avançar da idade. O coração de alguém muito velho, ciente dos poucos grãos na parte superior da ampulheta, bate bem mais devagar do que o de um recém-nascido, sobressaltado diante da vida que mal começou.

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A crônica se encerra aqui, de forma abrupta. Ela foi propositadamente breve para que você, caro leitor, não desperdice mais do seu tempo com ela. (E também porque a inspiração, que como se viu já era pouca, acabou) Aproveite o seu dia. Quanto a mim, Neil Armstrong que me perdoe, mas vou calçar o tênis e correr sob essa chuva miúda que cai com a vã pretensão de estragar o sábado.

Autor:

Ataíde Menezes

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