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quarta-feira, 24 de julho de 2024

Walküren – As Três Marias

Capítulo Trinta

– Mas onde essa mulher se enfiou, meu Senhor Amado?

Era Juca, andando de um lado para o outro na sala. Estava preocupado. Já era perto de meia noite e ele não fazia a menor ideia de onde Izabel poderia estar.  Ele não conseguia entender o que estava acontecendo. Porque sua esposa não vinha para casa? Para onde ela teria ido? Eram perguntas que só teriam resposta quando ela chegasse.  Enquanto isso, Juca continuaria preocupado com o que teria acontecido… 

Quando chegou à loja naquela manhã e as moças avisaram que Izabel havia saído da cidade a cavalo, ele não entendeu muito bem o que estava acontecendo. Mas pensou que talvez sua esposa tivesse resolvido dar um passeio para espairecer um pouco, já que na última semana ela se estressara muito com a entrega das encomendas e com o descaso da fábrica de tecidos.

Ao examinar a sala de Izabel, percebeu que ela trocara de roupas… claro que não seria muito confortável cavalgar de roupa social… mas ela as trocou pelas roupas de sua época de aventuras… ele olhou o cofre, e notou que as armas que ficaram por tanto tempo guardadas haviam desaparecido, juntamente com o cinturão. Claro que as moças não a viram sair armada da loja, mas com certeza as armas saíram dentro da sacola que ela levou. Isso o deixou ainda mais preocupado.

Durante toda a tarde Juca ficou de um lado para o outro, na expectativa de que a qualquer momento Izabel retornasse para a loja. Cada cliente que entrava o fazia suspirar, na esperança de que seria ela. E logo em seguida, uma expressão de desânimo se estampava em seu rosto, ao ver que não era quem ele estava esperando…

Quando chegou a hora de encerrar o expediente, Juca ficou um pouco indeciso… seria melhor esperar por Izabel um pouco mais, ou ia logo para casa? Depois de ponderar um pouco, percebeu que a melhor opção realmente seria esperá-la em casa. Dificilmente ela iria para a cidade naquele horário…

Ao chegar em casa foi recepcionado por Mario e Sônia, seus dois pedaços de gente. Agarram-se à sua perna e ele os alçou ao seu colo. Entrou em casa, onde Cecília terminava de preparar o jantar. A moça estranhou ao ver o cunhado sozinho e fez menção de perguntar alguma coisa, mas a expressão nos olhos do rapaz a fez entender a situação. Ficou em silêncio.

Cecília deu banho nas crianças, as alimentou e depois finalmente as colocou para dormir. Eram mais ou menos umas oito horas da noite. Ela tinha que ir para a casa de sua mãe, mas estava um pouco incomodada em deixar o rapaz sozinho… perguntou se ele não queria companhia até sua irmã chegar….

– Tem certeza de que está tudo bem, Juca?

– Bem, bem, não está, não é? Não faço a menor ideia do paradeiro de sua irmã… 

– Se quiser, eu falo com minha mãe e fico aqui até ela chegar…

– Não, Cecí, deixa prá lá… logo ela chega…

– Você não sabe mesmo o que aconteceu?

– Não aconteceu nada, Cecí… estou falando!

– Vocês não discutiram… não brigaram?

– De jeito nenhum… a gente estava em paz… faz muito tempo que não discutimos…

– Sério?

– Sim… eu cansei de perder para ela…

– Bem… se você tem certeza de que não vai precisar de mim… então vou para casa e volto só amanhã…

– Obrigado, Cecí… vai dar tudo certo….

Mas as horas foram passando e nada de Izabel aparecer. Juca já estava se desesperando. O pior é que não poderia ir atrás de sua esposa por dois motivos… não sabia onde ela poderia estar, além de que não tinha lógica deixar as crianças sozinhas enquanto procurava a mãe delas…

Os primeiros raios de sol encontraram um Juca insone, ainda caminhando pela casa, desnorteado. Agora realmente estava preocupado… quer dizer, ainda mais preocupado. Afinal, sua esposa não deu sinal de vida. Foi até o fogão, colocou algumas madeiras na boca do mesmo e o acendeu. Colocou uma panela de água para fazer o café. Teria que buscar o leite na mangueira, mas não podia fazer isso, pois continuava sozinho para cuidar das crianças. Enquanto Cecília não chegasse, ele teria que permanecer ali…

Não demorou muito… a água nem chegou a ferver… e Cecília estava entrando na casa. Olhou para o cunhado e instantaneamente entendeu que ele passou a noite em claro e que sua irmã não havia aparecido. Tomou as rédeas da cozinha. O rapaz aproveitou e saiu em direção à mangueira, buscar o leite para as crianças. Logo elas acordariam. Ainda bem que não eram muito ligadas à sua mãe… pois assim o transtorno seria menor. 

– Você… vai para a sede?

– Não sei… acho que é melhor ir até a cidade, abrir a loja da Belinha…

– Você acha…

– Não acho nada… mas tenho que abrir a loja e depois ir na delegacia. E depois vou ter que dormir um pouco… passei a noite em claro….

– Será que aconteceu alguma coisa com a Belinha?

– Que aconteceu, aconteceu… mas o que, Meu Deus?

– Olha… vocês não brigaram mesmo, não é?

– Não, Ceci… eu já te disse… faz tempo que a gente não tem nenhum tipo de problema…

– Mas isso não é normal… ela sumir assim…

– Eu sei. Por isso é que vou conversar com o delegado… sei lá… talvez ele saiba de alguma coisa…

– O delegado?

– É… afinal, ela saiu com a roupa que usava quando estava caçando bandido…

– Está brincando…

– Bem que eu queria… sabe as armas que ela usava na época?

– O que é que tem?

– Ela levou….

E Juca montou seu cavalo e seguiu em direção à cidade. Logo chegou à loja, onde as funcionárias já estavam esperando. Estranharam por ver o marido da patroa, mas não falaram nada. Ele delegou o controle da loja para a empregada mais antiga e foi em direção à delegacia. Tinha que informar o desaparecimento de sua esposa. E depois teria que avisar sua sogra… ficou preocupado com a segunda parte da missão… como a mãe de sua esposa receberia a notícia de que ele não fazia a menor ideia de onde estaria sua filha? 

Enquanto isso, em algum ponto das montanhas, as três amazonas levantavam acampamento. Só depois que a noite passou é que Izabel se deu conta de como sua família estaria, por não saber para onde ela foi. Deu de ombros. Quando chegasse em casa conversaria francamente com seu esposo. Iria embora. Sentia que precisava ir para algum lugar que não sabia onde era. Rosa sabia bem o que devia fazer… ia se demitir de seu trabalho na escola. Quanto a Graça, já havia deixado sua loja nas mãos de sua fiel escudeira. Sim, todas sentiam que tinham que seguir para algum lugar. Não sabiam onde era, nem qual seria seu destino. Mas sentiam que chegariam lá…

Tania Miranda
Tania Miranda
Trabalho na Secretaria de Estado de Educação do Estado de São Paulo e minha função é "Agente de Organização Escolar", embora no momento esteja emprestada para o TRE-SP, onde exerço a função de "Auxiliar Cartorário". Adoro escrever, e no momento (maio de 2023) estou publicando meu primeiro livro pela Editora Versiprosa...

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