Paraísos fiscais e futebol

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A semana finda foi plena de notícias fora do usual no futebol e na economia. No esporte, uma agressão brutal de um atleta que, insatisfeito com a marcação de uma jogada irregular, inicialmente esmurrou o árbitro, que caído recebeu do atleta violento chute na cabeça. A tentativa de homicídio foi televisionada para todo o país e repetida pelo mundo afora. Esta foi a mais brutal das cenas que vi em arenas futebolísticas, mesmos nas informais da minha meninice na Engenhoca, bairro de Niterói, onde a praça principal, por motivos óbvios, era conhecida, na época, por Largo da Morte, e que por insistência do meu avô, ao ali se instalar como comerciante, passou a ter oficialmente o nome de Largo de São Jorge, denominação, que penso, tenha até hoje.

Na economia, volta da inflação fora do controle, gasolina acima de R$7,00, desemprego, eleições comandando planos e ações. Uma lástima. Mas, nada que o couro calejado do sertanejo, do gaúcho, do ribeirinho, do candango, dos habitantes das periferias já não tenha conhecido e superado algumas vezes. Nem a sacanagem é inusitada.

O técnico da nossa Seleção Brasileira de Economia é o Ministro Paulo Guedes desde o início do atual governo. Seu principal auxiliar na espinhosa tarefa de conduzir a Seleção à prometida vitória durante a campanha eleitoral é o economista Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. A ele cabe, entre outros encargos, zelar, segundo aprendi nas aulas de economia no curso de Engenharia nos anos 60 com o Professor Plínio Cantanhede, manter saudável a nossa moeda, dizendo de modo direto, impedir sua desvalorização, lutar contra a inflação. Antes do jogo começar, em 2018, disseram os comentaristas daquela modalidade: “Ninguém melhor que esta dupla liberal. A taça será nossa!”

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Também esta semana, notícias deram conta que técnico e auxiliar do time da economia nacional mantêm parte de suas riquezas pessoais em paraísos fiscais, que são países que abrigam “dinheiros” de procedências diversas, nem sempre legais, e cujos impostos são sempre baixos. Brasileiros podem manter “dinheiros” nesses paraísos desde que declarados devidamente ao fisco brasileiro, como é o caso do técnico da nossa Seleção Nacional de Economia – que, aliás, não anda apresentando bons resultados – e de seu auxiliar técnico.

Quem põe seus tesouros nesses países o fazem, ou para escondê-los por sua procedência ilícita, ou por não confiar na economia do seu próprio país, e neste caso, melhor é apostar noutro time, essa é a lógica que simplórios, como este cronista, percebem sem esforço.

Os ingleses apostam em tudo. Até mesmo no nome dos herdeiros reais quando ainda na barriga das princesas. Penso que logo, se ainda não começou, estarão abertas as apostas para a próxima Copa do Mundo de Futebol no Catar em 2022. Quem quiser vai poder apostar, por exemplo, no palpite para o próximo país campeão, ou para os semifinalistas. As casas de apostas criam miríades de hipóteses e combinações.

Tite é o treinador da nossa seleção que tem mostrado um bom trabalho. Penso que este seja caso único em que tendo disputado o título mundial e não o tendo alcançado o treinador foi mantido na função, atestando a confiança nele depositada pelos dirigentes do nosso futebol e principalmente pela imprensa e pelos torcedores, que, aliás, merecem, ambos, mais crédito que a entidade oficial geradora de sucessivos escândalos.

Imaginemos agora, em um exercício de absurdo, que aberto o site das apostas para a Copa, os repórteres dos bisbilhoteiros tabloides vespertinos de Londres tivessem descoberto que Tite houvesse feito sua “fezinha” em que a final da copa não contasse com o Brasil, digamos que ele apostasse numa final entre Alemanha e França e noutra aposta entre Argentina e Espanha e nenhuma foi detectada constando o Brasil como finalista ou vencedor do importante certame. Para o nosso técnico, supostamente, o Brasil, no seu conjunto de apostas, chegaria à semifinal, mas perderia para quem quer que fosse o adversário. Previsão de nova catástrofe para as exigências da torcida brasileira para o desempenho do penta campeão, que há 20 anos não nos traz resultados ao gosto da patuleia.

Os hackers que haviam entrado no computador do Tite não deixaram dúvidas. A notícia, logo escândalo, não havia como ser negada. Correu o mundo do esporte e acabou chegando nesta parte moralmente entorpecida do planeta.

Tite, ficou indignado. Deixou transparecer seu estado de espírito para a imprensa especializada em economia, desculpe, especializada em futebol, defendeu-se: “Apostei usando dinheiro meu, ganho honestamente com meu trabalho e declarado à Receita Federal. A aposta na Inglaterra também paga, cada uma, 20 cents, de taxa ao tesouro de Sua Majestade Elizabeth II. Do que estão reclamando? Está tudo legal!”

Desculpe, Tite, sou seu admirador, quase um incondicional amigo desconhecido, reconheço seu esforço, mas apostar contra o time que você treina, pelo qual você é responsável, para o qual você define estratégias e táticas assim não dá, né? Literalmente você “pisou na bola”, Tite. Eu sei que muita gente faz isso e fica tudo por isso mesmo, mas futebol, no Brasil, meu amigo… No Brasil, futebol é coisa séria. Desculpe, Tite, conta outra!

Perdoe a brincadeira Tite, sei que você poderá não trazer o hexa, isso é do jogo, mas apostar contra nós não é do seu caráter!

Crônicas da Madrugada.

Autor:

Danilo Sili Borges, membro da Academia Rotária de Letras do Distrito Federal. ABROL BRASILIA. Brasília – Out. 2021
danilosiliborges@gmail.com

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